Por Marcello Comuna
A teologia da prosperidade com sua doutrina triunfalista, cada dia mais tem ofuscado as verdades eternas das mentes dos cristãos contemporâneos. É inegável o crescimento desse câncer, realizando assim, o cumprimento das profecias sobre a apostasia dos últimos dias.
Uma característica marcante dessa teologia é a implantação na mente dos seus seguidores que Deus lhes deva alguma coisa. A famosa lei da semeadura, você semeia, Deus é obrigado a te dar a colheita. Nada mais herético!
Deus não te deve nada!
"Qual de vocês que, tendo um servo que esteja arando ou cuidando das ovelhas, lhe dirá, quando ele chegar do campo: ‘Venha agora e sente-se para comer’? Pelo contrário, não dirá: ‘Prepare o meu jantar, apronte-se e sirva-me enquanto como e bebo; depois disso você pode comer e beber’?
Será que ele agradecerá ao servo por ter feito o que lhe foi ordenado?
Assim também vocês, quando tiverem feito tudo o que lhes for ordenado, devem dizer: ‘Somos servos inúteis; apenas cumprimos o nosso dever’ ". Lucas 17:7-10
O próprio Jesus proferiu essas palavras para os seus apóstolos, fazendo uma alusão entre nós e o Pai. Deus já fez muito mais do que Ele nem tinha a obrigação de fazer.
Há uma ambição coletiva que permeia nossas mentes, para nós, enquanto habitarmos nesse corpo corruptível, será sempre impossível compreender o amor incondicional de Deus porque somos totalmente condicionais. Por isso o ser humano tem tanta facilidade de aderir qualquer teologia que afirme que Deus nos deva alguma. Estamos condicionados a dar para receber. E foi analisando sobre o comportamento dos adeptos da teologia da prosperidade que peguei meu espelhinho (Escrituras), e coloquei diante do meu fucinho para ver se enxergava em mim aquilo que critico neles. Achei.
Observei ao redor e vi que esse pensamento mesquinho e ingrato não é privilégio dos triunfalistas, nós também, que enxergamos esses defeitos neles, cometemos o mesmo erro.
“Por que você repara no cisco que está no olho do seu irmão e não se dá conta da viga que está em seu próprio olho? Lucas 6:41
Nos não cobramos bênçãos materiais por semear rios de dinheiro em campanhas de vitórias, porém, achamos que Deus nos deva alguma coisa pelo nosso devocional, pela nossa piedade, pelo nosso amor a obra, pelo nosso zelo com a verdade, pela nossa apologética, pela nossa santidade, pela nossa luta pelo bem. Como somos terrivelmente hipócritas!
Deus não nos deve nada!
“Assim também vocês, quando tiverem feito tudo o que lhes for ordenado, devem dizer: ‘Somos servos inúteis; apenas cumprimos o nosso dever’”.
Pesado, né? Eu sei que é! Mas esquadrinhe no fundo de sua alma e responda para você mesmo se não há esse senso de cobrança com o Pai. Por isso que o Senhor nos alerta o qual corrupto é o nosso coração.
“Enganoso é o coração, mais do que todas as coisas, e perverso; quem o conhecerá?” Jeremias 17:9
A primeira pergunta que um homem, um cristão piedoso e fiel faz quando uma tragédia o sucede é: “Por que Senhor, eu lhe sirvo com tanto zelo?” A cobrança sai por osmose.
Imagine a seguinte cena. Estamos na minha casa, eu estou lhe recebendo para um jantar com minha família. Você é um ateu, e eu estou investindo para que você se salve. Minha esposa e minha filha estão conosco sentadas à mesa. No meio da refeição, bandidos armados invadem a casa e nos tomam por reféns. Vizinhos que viram os criminosos entrando chamam a polícia. Minutos depois a casa está cercada e o terror instalado. Os marginais alucinados entram em negociações com a polícia, fazem exigências, mas os policias não atendem. Revoltados, resolvem matar alguém para mostrar que estão falando sério e não tem nada a perder. Eles olham para você e decidem te matar. Eu intervenho. Inutilmente. Eles querem matar você.
Você pede clemência, desesperadamente alega que tem uma família, filhos. Em um momento de desespero eu me ofereço em seu lugar pois sei que em Cristo estou salvo, mas diabolicamente os bandidos propõem: Ou ele ou sua filha! É nesse instante, que eu, tendo certeza da salvação dela pela inocência dos seus cinco aninhos, e de sua condenação eterna por estar sem Cristo e longe dos seus mandamentos, que eu tomo a decisão mais difícil da minha vida. Entrego minha filha no seu lugar para que você tenha mais uma chance, para que você não pereça eternamente no inferno. A arma dispara e o impacto da bala arremessa o corpo dela sobre você, ela morre nos seus braços e você tem o sangue dela em suas mãos.
Agora responda sinceramente. Você, enquanto vida tivesse, teria coragem de me cobrar mais alguma coisa na vida? Por mais que você me honrasse com dinheiro, com homenagens, com subserviência, com obediência e louvores. Você teria coragem de me pedir algo mais?
Então por que você ainda acha que Deus te deve alguma coisa?
Você não teria por mim um eterno sentimento de gratidão impagável? Toda vez que você pegasse seu filho nos braços, você não se lembraria que uma inocente morreu para que vocês tivessem mais uma chance de permanecerem juntos?
Se você ainda acha que Deus te deve alguma coisa, você não entendeu nada sobre o sacrifício de Jesus Cristo.
Agora vá ter um tempo com Deus e peça perdão por sua miséria.
Que Aquele não te deve nada te abençoe pela graça.