SUBVERTA

Pesquise as verdades primitivas aqui.

terça-feira, 7 de agosto de 2012

O que você quer que Eu te faça?




Uma característica marcante no ministério de Jesus era a sua capacidade de trabalhar com o homem em sua individualidade. Mesmo sendo constantemente acompanhado e às vezes sufocado por uma imensa multidão, Jesus dedicava um tempo imenso a tratar de forma individual com muitos que ele encontrava pelo caminho.

Em seus encontros pessoais Jesus não apresentava uma mensagem
pre-formatada, forçando o homem a se adaptar a ela, mas o Senhor tratava cada individuo em seu nível pessoal, de acordo com a estação de vida em que a pessoa estava vivendo e levando em consideração as sua limitações e aspirações.
 

Só para citar alguns exemplos: com Nicodemos o ajudou a entender o quanto a sua religiosidade o impedia de ver o novo de Deus; com a mulher samaritana a ajudou a se encontrar em meio a conflitos pessoais; ao homem da mão mirrada, certamente estigmatizado por uma sociedade que classificava qualquer problema físico como um pecado ou maldição, o chamou para o meio, para que todos o percebesse e lhe deu visibilidade antes mesmo de curá-lo.
 

Basicamente a postura de Jesus era como ele sempre perguntasse: o que você quer que eu te faça? Na verdade para um cego ele perguntou isso mesmo. Jesus parava para ouvir as perguntas das pessoas, o que de fato elas estavam falando, ele parava para ouvir a batida do seu coração. Parece redundante, mas cada um era cada um e devia ser tratado de forma individualizada. 
 

Isso nos chama muito a atenção, pois nos dias de hoje tratamento individualizado só nos remete às empresas que investem na qualidade do atendimento, simplesmente no âmbito mercantilista cliente-prestador de serviço. Nos dias de hoje, numa igreja cada vez mais massificada, onde a quantidade tem uma qualidade em si mesma, onde vemos uma linha de produção de "conversões" e "milagres", não se tem tempo para ouvir as pessoas, suas histórias de vida e suas limitações e aspirações como Jesus fez. Sendo assim o individuo se vê massificado, forçado a se identificar com a mensagem geral, do contrário não tem opção, a não ser cair fora. Simples assim. e aumentar o número dos "sem igreja" ou "desviados".
 

Em uma linha de produção gospel as programações tem que ser generalizadas e a mensagem realmente pre-formatada com jargões e clichês, seja essa mensagem falada ou cantada. Parar para ouvir, parar para caminhar no ritmo de cada um, atrapalha o processo, emperra a produção, e conseqüentemente as metas não são atingidas. Alcançar o número de um milhão de almas! O que isso realmente significa? Uma igreja com 1.000 ou 10.000 pessoas é de fato relevante é sua comunidade só por seu tamanho? Tamanho é documento? 
 

Uma igreja deve ser relevante em sua comunidade não por seu tamanho, poder aquisitivo ou capacidade de mobilização, mas sim porque se importa com as pessoas, caminha com elas em amor, as suporta em suas necessidade, e como Jesus, pergunta ao individuo: o que você quer que eu te faça?
 

Independente do nosso tamanho, podemos e devemos como Igreja de Cristo amar as pessoas e nos dedicarmos a elas e ajudá-las como fez o Senhor, percebendo o seu contexto de vida, intervindo em seu cenário (família, comunidade, etc) e assim fazendo do micro alcançaremos o macro. Como disse Margareth Mead: "Nunca duvide da capacidade de um pequeno grupo de dedicados cidadãos para mudar os rumos do planeta. Na verdade, eles são a única esperança de que isso possa ocorrer".
 

Pense nisso, fale sobre isso!
 

David &  Célia
Pelo Rei e pelo Reino

David e Célia são missionários da Jocum em missão aqui no Rio de Janeiro. Seus trabalhos são de extrema relevância na comunidades carentes e zonas de conflitos sociais. São meus amigos pessoais e sendeiros luminosos do Reino. Para mim, é uma honra e um cuidado de Deus tê-los no meu hall de amigos. Orem por eles e por seus dois filhos, Levi e Rebecca.

sábado, 23 de junho de 2012

A Igreja precisa aprender com o Green Peace.

 

Por Marcello Comuna
Calma, deixe me explicar.

Temos observado uma conscientização mundial a respeito do crescimento sustentável. Sustentabilidade entrou para a pauta das grandes preocupações entre os líderes de todo o mundo. O tema se tornou centro de campanhas mundiais por uma racionalização do uso dos recursos naturais.

Tem sido a causa apaixonada de muitos jovens por todo o planeta, levando-os às ruas em manifestações pacíficas. Tem inspirado até mesmo à produtores, artistas e astros do rock. Os mesmos têm doado parte de seus cachês em favor da causa. Cada vez é maior o número dos eventos para arrecadação de fundos para campanhas em prol da recuperação e conservação da natureza. Recentemente, tivemos o festival SWU em uma fazenda na cidade de Itú - SP, aonde foi montada uma mega estrutura para receber centenas de artistas iniciantes e consagrados, como Rage Against the Machine (a melhor banda do festival) e Link Park. Toda a o organização e estrutura do evento foram direcionadas para agir em sinergia com a natureza ao redor sem prejudicá-la.

Rage Against the Machine no SWU

Mas nem sempre foi assim. Na verdade esse movimento pela sustentabilidade ainda é um bebê. Há tempos os cientistas, geógrafos, arqueólogos e ambientalistas, vêem alertando sobre os perigos do crescimento desenfreado promovido pelo capitalismo selvagem. Sempre foram tratados como fatalistas e exagerados, eram vistos como os profetas que anunciavam uma catástrofe que ainda estava muito longe de vir, se é que viria.

Porém, contra fatos não há argumentos. E mais convincente do que qualquer argumento científico, foi a humanidade começar a presenciar tsunamis varrendo litorais inteiros, geleiras gigantescas desmoronando sob o sol cada vez mais forte elevando os níveis dos oceanos, enchentes, situações climáticas atípicas nas estações do ano, calor insuportável às 08:00 horas da manhã, espécies e mais espécies sendo extintas do planeta.

O mundo entrou em alerta. E aos poucos, medidas e leis governamentais vão sendo criadas para que o planeta não se desmanche sob os nossos pés.

Agora, deixe me fazer uma analogia com a situação da igreja nos dias de hoje.

A igreja evangélica tem crescido assombrosamente nas últimas décadas, e a maioria dos crentes vêem nisso uma vitória, porém, existe um grupo menor, como os cientistas supracitados, mandando um recado que tem se propagado cada vez mais. O recado é:

A igreja não está crescendo! A igreja está inchando! Parem agora!

Um corpo inchado é um corpo doente!

O princípio destrutivo do capitalismo de crescer a qualquer custo visando sempre o lucro penetrou na mentalidade dos líderes eclesiásticos. Igrejas estão sendo transformadas em empresas. E o pior, alegam que esse crescimento faz parte do avivamento prometido pelo Senhor!

Heresia!!!

Aonde o avivamento verdadeiro chega a subversão acontece. As coisas começam a sair do lugar (ou entrar, depende do ponto de vista), o mundo vira de pernas para o ar. Atos 17.6

A Bíblia diz que quando a Luz chega as trevas saem. Olhe ao redor, cadê as evidencias desse tal avivamento? Existe paz? Existe uma crescente moralidade? Pelo contrário, a violência e a imoralidade crescem a cada dia. Não se engane com esse inchaço, meu camarada.

Esse crescimento não é obra do Espírito Santo, trata-se puro e simplesmente de princípios empresariais de crescimento aplicados sobre um povo doente, cansado, desesperançoso, que são atraídos por falsas promessas de um triunfalismo capitalista. Afinal, quem não quer se dar bem?

Assim como a humanidade está descobrindo maneiras eficazes de continuar se desenvolvendo com sustentabilidade, a igreja precisa voltar a pensar na qualidade, na maturidade desses que estão lotando os templos evangélicos em todo o país.

Assim como os líderes mundiais se reúnem para discutir maneiras de alcançar um crescimento sustentável, os líderes eclesiásticos remanescentes, aqueles que não se deixaram contaminar com essa teologia maldita da prosperidade, deveriam se unir em prol de um grande movimento de retorno do evangelho genuíno, o único elemento capaz de garantir um crescimento com sustentabilidade, e não permanecerem omissos diante desse cenário dantesco. Como diria Luther King: “O que me preocupa não é o barulho dos maus, mas o silêncio dos bons”.

Ao invés da Marcha para Jesus que se tornou puro comércio e instrumento de barganha para políticos interessados nos votos dos crentes, proponho uma Marcha pelo Retorno do Evangelho Genuíno.
Uma busca por aqueles que se perderam por conta dos escândalos. Uma marcha com uma pregação apologética, libertando as pessoas das doutrinas judaizantes, do sincretismo religioso que trouxe os atos proféticos e pontos de contato da fé para o nosso meio, responsáveis por manter os cristãos supersticiosos e mancos em sua cristandade. Uma marcha pregando a verdadeira liberdade para que Cristo nos libertou.

Tenho fé que o avivamento realmente já tenha começado nesse país, mas ele não está sendo evidenciado através dos teles pastores, na construção da réplica do templo de Salomão, nas inúmeras igrejas e denominações novas que se abrem em cada esquina, tão pouco com a aliança entre Rede Globo e pop stars gospels.

Ele começou no desejo ardente de homens e mulheres de Deus que não tem se calado por todo esse país. Homens e mulheres que tem colocado a cara a tapa, pregando o evangelho puro e simples, indo contra essa moda evangélica que se propaga.

Não basta traçar estratégias de crescimento, é preciso pensar na sustentabilidade. Nesse caso, a sustentabilidade está no incentivo da maturidade espiritual do novo e velho convertido. E essa maturidade somente é alcançada através do evangelho puro e simples, o genuíno, o que custava a vida dos nossos irmãos primitivos, e que hoje, tem custado a vida de tantos outros pelo mundo.

Caso contrário, continuarão a se propagar cristãos “bola de neve” (nenhuma alusão a igreja, pelo amor de Dio!), começam pequenos, vão crescendo, arrastando tudo pela frente, se transformam em uma avalanche, e depois vão perdendo a força até encontrar um obstáculo (as circunstâncias da vida) que os pare. Depois o sol se encarrega de dissipá-los com seu calor.

Finalizo agradecendo ao Pai por ter me impedido de ir em frente com um ministério quando eu era um menino influenciado por doutrinas judaizantes, por achismos, por clichês gospels e por um evangelho cheio de equívocos teológicos. Sei que seria difícil retornar as origens do evangelho já tendo toda uma estrutura montada sobre um monte de deturpações. Dar o braço a torcer, parar, abandonar a “visão”, deixar de arrecadar altas quantias de dinheiro, retroceder para pegar a rota certa.

Aos que se vêem nesse dilema sugiro que reflitam sobre 1º Tessalonicenses 3.4.

Não ame mais a sua “visão” do que as Verdades das Escrituras. Cresça com sustentabilidade, mesmo que isso te custe coisas valiosas na terra. Lembre-se que nossa pátria está nos céus.

Deus abençoe.

*O Greenpeace é uma organização global e independente que atua para defender o ambiente e promover a paz, inspirando as pessoas a mudarem atitudes e comportamentos. Informação do site.


Publicado originalmente em dezembro de 2010.


quarta-feira, 23 de maio de 2012

Façamos Obras Maiores Que as de Cristo



"E, quando aqueles homens chegaram junto dele, disseram: João o Batista enviou-nos a perguntar-te: És tu aquele que havia de vir, ou esperamos outro?
E, na mesma hora, curou muitos de enfermidades, e males, e espíritos maus, e deu vista a muitos cegos.
Respondendo, então, Jesus, disse-lhes: Ide, e anunciai a João o que tendes visto e ouvido: que os cegos vêem, os coxos andam, os leprosos são purificados, os surdos ouvem, os mortos ressuscitam e aos pobres anuncia-se o evangelho". Lucas 7:20-22

Por Marcello Vieira
O povo crerá por conta dos sinais (João 4.48). Quando se fala em sinais muitos pensam em cegos físicos sendo curados, paralíticos levantando - e andando, mortos ressuscitando. É verdade que esses sinais foram frequentes no ministério de Cristo e que ele nos deu poder para repeti-los através do Espírito Santo. Porém, os sinais não se limitam aos prodígios. Na verdade, encarando nosso contexto histórico e social, penso que as obras maiores que o Messias disse que faríamos estão além dessas maravilhas.

Em mundo com tanto caos, pobreza e injustiça, a igreja é desafiada a ter sua luz mais brilhante do que em qualquer outro momento da história. A igreja tem o desafio de salgar mais do que em qualquer outro tempo. Os moribundos estão por toda parte. Milhares de pessoas vitimizadas por um sistema corrupto não tem a oportunidade e nem os subsídios básicos para começarem a lutar com reais chances de vencer. As almas dos povos estão infectadas pela desesperança e pela humilhação social que lhe foram imputadas. Além do juízo vindouro, milhares de pessoas já padecem em um inferno social e psicológico. A alma do ser humano nunca foi tão maltratada - as doenças da psique crescem em grande escala. A corrupção e a afronta dos políticos elevam seus níveis de ousadia garantindo-se na impunidade da justiça e na letargia pacífica de um povo que não tem acesso a educação de qualidade. Um povo que é facilmente distraído com futebol e novela.

 E dentro desse contexto estamos nós, a igreja de Jesus Cristo, aqueles que foram chamados para fora para trazer boas notícias. Fomos plantados por Deus no olho do furacão, temos em nossas mãos o verdadeiro remédio para toda essa miséria humana, temos a oportunidade de realizar as obras maiores que Jesus nos habilitou para fazer.

Nossos sinais devem ir além de indivíduos, o evangelho é coletivo. Observe que diante do questionamento de João Batista a respeito de sua divindade, Cristo entra em atividade física e começa a transformar a vida de quem está ao redor. Somente depois ele responde: "Contai a João o quê tem visto e ouvido: que os cegos enxergam, os paralíticos andam, os leprosos são purificados, e os surdos ouvem; os mortos são ressuscitados e o evangelho é anunciado aos pobres". Ele nem precisa auto afirmar que era o Messias, apenas manda que se relate os fatos - porque contra fatos não há argumentos.

A igreja precisa realizar os sinais. Muito mais do que pregadores realizando prodígios (suspeitos) na televisão, precisamos interferir na realidade da nossa comunidade. Olhar para fora e subverter o caos. A corrupção assola nossa pátria, os heróis morreram de overdose e se sujaram no esgoto da corrupção. Cabe a nós gritar por justiça, cabe a nós estender as mãos, cabe a nós trazer a visão aos cegos na alma, cabe a nós trazer o movimento as pernas daqueles que foram aleijados pelas circunstâncias, cabe a nós abrir os ouvidos dos que não ouvem, mas não com nossos berros de moralismo, mas com atitudes corroboradoras do amor que anunciamos.

Menos marcha para Je$u$, mais Marcha pelo Caminho, pela Verdade e pela Vida! Mostremos os sinais! Façamos as obras maiores transformando a realidade ao nosso redor com o poder do Evangelho.

Deus nos ajude!


quarta-feira, 16 de maio de 2012

Escândalo ou Choque Cultural?


Por Marcello Vieira

O quê é escandalizar?

Sempre tentei compreender o dogma do escândalo. Desde que me aventurei a conviver entre os evangélicos, fui bombardeado com um novo idioma - um novo dialeto. Dentro desse universo passei a ouvir constantemente as expressões - escândalo e escandalizar. Os alertas eram muitos para não escandalizar ninguém, principalmente os irmãos. Em muitas situações, me parecia que o simples fato de desagradar alguém com algum comportamento seria um escândalo. Usando Lucas 17.1, me mostravam como Jesus reprovava os escândalos e como a pena é severa para esse delito – afogar-se no mar com uma pedra amarrada no pescoço!  Jesus é amor, mas às vezes ele é meio intolerante – pensava eu.

As afirmações e interpretações a respeito do escândalo são tantas que tenho a impressão que para muitas pessoas, essa palavra tem vários significados e pode até mesmo passar por uma metamorfose em certas circunstâncias. Dentro da nossa cultura ocidental, segundo o dicionário da língua portuguesa, escândalo é:

Coisa indecorosa, contrária aos bons costumes.
Estado de perplexa indignação suscitado por palavra ou ato reprovável: com grande escândalo do auditório.
Procedimento desabrido que causa vexame ou constrangimento; altercação, querela; algazarra, tumulto: dar escândalo em público.
 Dicionário Online de Português

Porém, sabemos que devemos ler as Escrituras Sagradas sob a luz da hermenêutica e da exegese.

Então, levando em consideração que Lucas foi escrito em grego e levando em consideração as circunstâncias em que Jesus pronunciou essas palavras, a interpretação contemporânea não traduz o significado de escândalo na pronuncia de Jesus. E se isso é verdade, todo o dogma criado em cima do conceito popular evangélico sobre escândalo está equivocado.
Partindo do significado original grego de que escândalo (skandalon) é um obstáculo, é de se pensar que o ato de escandalizar tem muito mais haver com um ensino do que com ato, comportamento ou cultura de alguém.

Ou seja, escândalo é uma coisa, chocar o seu preconceito é outra totalmente diferente. Pare de usar Jesus para corroborar o seu desejo por singularidade e sua incapacidade de viver em pluralidade.

Quando Jesus disse que os escândalos seriam inevitáveis e que coitados seriam aqueles por quais esses escândalos viessem, penso que ele estava se referindo muito mais a ensinos que obstruiriam as pessoas de chegarem até Deus do que de comportamentos. Principalmente quando vemos que antes dessa afirmativa, o Messias vinha fazendo uma dura crítica aos fariseus, que eram os mestres de ensino da época.

Lembro-me do bispo Walter Maclister falando sobre a banalização do sacramento. Acredito que essa banalização foi aplicada ao escândalo, o quê é de fato, extremamente nocivo às pessoas. Penso que isso seja fruto da arrogância das pessoas que sempre tentam usar a bíblia para corroborar seus achismos e ponto de vista.

Com isso, vemos as pessoas usando a expressão escandalizar para imputar sobre os outros suas normas de comportamento e gostos pessoais, tornando-se comum ouvir irmão exortando outro irmão sobre vestimentas, culturas, gostos musicais e hábitos culturais sob o juízo do escândalo.

Será que os jovens tatuados na igreja, de brinco e piercing são um obstáculo para que os anciãos alcancem a salvação?  

E os irmãos mais contextualizados culturalmente, também seriam um entrave para a salvação dos mais tradicionais? E vice versa?

É óbvio que não! O quê eles são, no máximo, é um choque cultural! Um abalo sísmico no preconceito e nas predefinições.

No Antigo Testamento, Deus sempre se referiu ao escândalo como um obstáculo para se chegar até a Ele. O próprio Cristo foi chamado de Rocha de escândalo, pois ele foi um obstáculo para a salvação dos judeus.

Paulo afirma: "Mas nós pregamos a Cristo crucificado, que é escândalo para os judeus, e loucura para os gregos". 1º Co 1.23

O próprio Jesus adjetivou Satanás como um escândalo, um obstáculo, quando usou a boca de Pedro para tentar impedi-lo na conclusão de sua obra.

“Ele, porém, voltando-se, disse a Pedro: Para trás de mim, Satanás, que me serves de escândalo; porque não compreendes as coisas que são de Deus, mas só as que são dos homens”.  Mateus 16:23

Existe muita gente sendo defraudada em sua liberdade em Cristo por conta de uma compreensão errada sobre que o quê é escandalizar alguém. É impossível agradar a todos. Chocar preconceitos não é escandalizar.

Viva sua liberdade em Cristo trazendo na sua mente a seguinte consideração quanto as suas atitudes e ensinos: "Será isso um obstáculo para a salvação de alguém ou apenas um tremor inevitável do convívio entre seres humanos diferentes e plurais"?

Pense melhor em continuar banalizando esse vocábulo que carrega em si uma grande responsabilidade. Penso ser essa a lente correta para ler-se escândalo nas Escrituras.

Deus abençoe!


segunda-feira, 14 de maio de 2012

Pobreza e (com) Paixão.


Se eu dou comida a um pobre, me chamam de
santo, mas se eu pergunto por que ele é pobre,
me chamam de comunista.” (Dom Hélder Câmara)
Por Nei Alberto Pires 
A defesa das causas dos pobres é uma tarefa muito árdua. Exige da gente mais do que compreensão, discursos e teorias, mas, sobretudo, compromisso e compaixão. Somos muito preconceituosos para com o sofrimento dos pobres.
Desconhecemos sua realidade e não nos dispusemos a mexer na raiz de nossos problemas: a nossa forma de organizar o mundo. Entre nós é muito forte a idéia de que pobres são coitados, por isto desprovidos de sorte e de bens. Se não lutam, são preguiçosos. Se lutam e exigem, tornam-se perigosos. Mesmo quando passam fome, a gente insiste em dizer que eles ainda são capazes de sonhar.
Só a lucidez da razão e a sensibilidade podem tratar bem das questões da existência e convivência humanas. Na visão ocidental, desenvolvemos a ilusão de que somente a razão nos dará respostas aos problemas humanos. Nem a razão ornamental (que serve de ornamento), nem a razão instrumental (ferramenta para transformar a realidade) são capazes de justificar o sofrimento e a realidade daqueles que excluímos socialmente (os pobres). Os pobres não são invenção, não são uma ideia. Os pobres são reais. Os pobres existem, e sofrem a violação de sua vida e dignidade.
Leonardo Boff, defensor incansável das causas dos pobres e oprimidos, afirma que são três as compreensões que se tem da pobreza. Uma primeira, clássica, é a ideia de que o pobre é aquele que não tem. A estratégia então é mobilizar quem tem para ajudar a quem não tem, através de ações assistencialistas, sem reconhecer a potencialidade dos mesmos. A segunda ideia, moderna, é aquela que descobre os potenciais do pobre e compreende que o Estado deve fazer investimentos para que ele seja profissionalizado e potencializado, com fins à inserção no mundo produtivo. Ambas as posições desconsideram, na visão de Boff, que a pobreza é resultado de mecanismos de exploração, que sempre geram enormes conflitos sociais. Boff acredita que é preciso reconhecer as potencialidades dos pobres não apenas para engrossarem a força de trabalho, mas principalmente para transformarem o sistema social. Os pobres, organizados e articulados com outros atores da sociedade, são capazes de construir uma democracia participativa, econômica e social. “Essa perspectiva não é nem assistencialista nem progressista. Ela é libertadora”,a firma Boff.
Só a compaixão reveste-se de libertação. Compaixão não é sofrer pelos outros, mas sofrer com eles. O sofrer com os outros permite à gente colocar-se em seu lugar. Enxergar a partir dos seus pontos de vista e de suas realidades. É também deixar-se transformar, permitindo que os nossos mais nobres sentimentos se traduzam em ações concretas a favor dos pobres, fracos e marginalizados.
Poucos vivem a compaixão. Muitos perderam a sensibilidade, o que os impossibilita de viver a caridade e o amor ao próximo. Outros preferem atribuir aos pobres a culpa por sua situação de miséria e vulnerabilidade. Outros discursam democracia, não perguntando se esta propicia as mesmas condições e oportunidades a todos, como ponto de partida. Põe que o ponto de chegada depende de cada um de nós. E muitos, em grande número, tratam como crime a atitude de quem luta por causas humanitárias, quando estas exigem uma mudança na estrutura e organização da sociedade.“As pessoas são pesadas demais para serem levadas nos ombros. Leve-as no coração”, disse Dom Hélder Câmara. Este é o sentido maior da compaixão para com os pobres: não os defendemos por serem bons ou anjos, mas porque são parte de uma sociedade desigual, que não sabe lidar com eles.
Nei Alberto Pies é professor e ativista em direitos humanos.

quarta-feira, 25 de abril de 2012

O Religioso Pós Moderno Escuta Rock n' Roll





Por Marcello Vieira
Na minha compreensão a religiosidade é um demônio. Foi por causa da cegueira religiosa que os zelosos fariseus não conseguiram enxergar Deus em Jesus. 

Há seis anos, quando comecei minha caminhada na fé, inevitavelmente dei alguns passos dentro do infernal caminho da religiosidade. Por causa desse demônio, não conseguia carregar o peso leve que Jesus tinha reservado para mim, pelo contrário, me deram um fardo pesado e uma lente terrivelmente suja para enxergar a vida.

Pronto! Você está apto para caminhar no cristianismo Marcello! 

Queimou todos seus cds seculares, mudou toda a decoração revolucionária do seu quarto (a foto do Che Guevara era um portal dimensional para os demônios entrarem na minha vida), parou de cheirar a raspa da unha do capeta (cocaína) e de beber o xixi do satanás (cerveja)!

Oh Glória! Aleluia irmão! 

Nessa época eu já lia bastante a bíblia, mas não entendia nada direito. Era outra cultura, outro linguajar. Então, eu pedia para meu novos amigos me explicarem o quê eu não conseguia compreender, e era aí que eu era doutrinado religiosamente. Aos poucos fui sendo lobotomizado. Minhas preocupações com o social, com o pobre, com os órfãos como eu - e com as viúvas como minha mãe, foram perdendo lugar para ansiedade de ver anjos, subir montes, lutar com demônios em madrugadas inteiras de orações. Troquei minha literatura poética, filosófica e politica por Daniel Mastral, Rebeca Brown, Neuza Itioka, entre outros. 

Passei a ver demônios em todas as formas geométricas, abandonei toda manifestação artística que não tivesse o selo gospel de santidade. Fui transformado em nova criatura - nascia mais um religioso. Magoei gente amada que me tratou bem a vida toda por discordarem das minhas verdades. Lamento por saber que não poderei mais ser uma ponte entre elas e Deus.

Foi nessa época que descobri também que o religioso pós moderno não tem mais aquela aparência do inconsciente coletivo. Para a maioria das pessoas, o esteriótipo do religioso ainda é aquele perfil dos irmãos assembleianos. No inicio da minha conversão eu também pensava assim. Na verdade, eu não sabia direito o quê era uma pessoa religiosa. Na minha incauta compreensão da época, religiosidade se resumia a roupas e liturgia. Então, quando conheci uma igreja que tocava rock e reggae no louvor, que tinha uma prancha no altar como púlpito e que incentivava os esportes radicais, eu pensei: Estou no céu! 

Ledo engano!

Sei que houve um proposito especifico do Pai para me levar a passar dois anos servindo naquele lugar. Pude conhecer de perto essa artimanha demoníaca em alienar pessoas com uma roupagem moderna. 

Infelizmente, nas minhas andanças por aí, percebo que esse demônio continua a confundir muitos irmãos. A cada dia me deparo com mais fariseus tatuados, fãs de rock n' roll, skatistas, surfitas, lutadores de jiu-jitsu, entre outros. Existem até mesmo religiosos frequentadores de raves gospel.

Triste é vê-los em suas ignorâncias condenando os religiosos tradicionais sem perceber que são idênticos em suas essências. 

A cada dia surge um novo movimento underground cristão auto intitulando-se anti religião. Porém, basta dar uma olhada mais aprofundada para perceber que trata-se apenas de vinho velho em odre novo. Fiquei frustrado essa semana ao ver um vídeo de um proeminente movimento cristão que tem como slogan a mudança de mente. Fiquei triste ao constatar que trata-se apenas de mais um homem cego gritando contra o próprio espelho.

Nossa submissão dever ser somente aos ensinos do nosso Mestre. Toda religiosidade humana que tenta alienar o ser humano dentro de uma cultura exclusivista deve ser rejeitada. 

Fiquemos atentos!

quarta-feira, 18 de abril de 2012

Deus é de Esquerda ou de Direita?


Por Hermes C. Fernandes


Definitivamente, não existem ideologias perfeitas. Todas têm suas virtudes e vicissitudes. Cada qual tem seu altar e seu sacrifício. O comunismo, por exemplo, sacrifica a liberdade de seus cidadãos no altar da justiça social. O capitalismo faz o inverso, sacrifica a justiça social no altar da liberdade.

Ora, se não há ideologias perfeitas, o que nos dá o direito de sacralizá-las? Não podemos diluir a mensagem do Evangelho, transformando-o num discurso ideológico. Ainda que cada uma delas tenha um ponto ou mais que coincidam com a proposta do Evangelho. Diluir uma gota de Evangelho num balde de ideologia acaba por corromper completamente seu conteúdo e subversividade originais.

Deus não é de esquerda, nem de direita. Se o Evangelho promove a justiça social, também não prescinde da liberdade individual.

Quando sacralizamos uma ideologia, geralmente, demonizamos as demais. Foi o que aconteceu com o comunismo a partir do golpe militar em 1964. Pregadores fizeram vista grossa às atrocidades cometidas pelo governo militar, enquanto identificavam o comunismo com o próprio diabo. Houve quem enxergasse um viés político-ideológico até na passagem em que Jesus descreve o juízo final, quando a humanidade será dividida em dois grupos. Os da esquerda, destinados à condenação, seriam os comunistas, enquanto que os da direita, destinados à vida eterna, seriam as nações que adotassem a ideologia importada dos EUA, a saber, o capitalismo. Igualmente, dos dois ladrões crucificados com Jesus, somente o da direita foi salvo.

Qualquer pregador que ousasse questionar a ditadura militar, corria o risco de ser preso, acusado de subversão. Há quem diga que muitos desapareceram...

Não devemos nutrir uma visão romântica de nenhuma ideologia. Em nome de todas elas, atrocidades foram cometidas.

Vamos focar as duas principais ideologias vigentes neste novo século, a saber, o comunismo (que resiste bravamente na China e em Cuba), e o capitalismo.

O comunismo, em sua essência, defende que os bens de uma sociedade deveriam ser partilhados igualmente entre todos os seus cidadãos. Isso parece coincidir com a proposta do Evangelho. Eu disse, parece. Teria o Estado o direito de apropriar-se de bens privados?

Temos um exemplo disso na Bíblia, quando um rei malévolo desejou acampar a vinha de um cidadão de Israel. Acabe conspirou contra Nabote, a fim de tomar-lhe a propriedade. É óbvio que Deus jamais apoiaria tal atitude. O mandamento que diz que não devemos cobiçar o bem alheio, bem como o mandamento que nos proíbe o roubo, são uma indicação de que a vontade de Deus é que a propriedade privada seja respeitada. Também encontramos nas Escrituras leis que regulam a hereditariedade de bens (Pv.13:22).

Entretanto a Bíblia incentiva a partilha de bens, desde que seja voluntária, fruto de uma consciência grata e generosa. Foi isso que aconteceu na igreja primitiva. O que vemos ali está longe de ser uma amostra grátis do que seria uma sociedade comunista. Em vez disso, trata-se de uma demonstração de como funciona uma sociedade erigida ao redor do Trono da Graça. Trata-se, portanto, de reinismo, em vez de comunismo. A partilha jamais foi compulsória, mas provinha do fato de todos terem um só coração (At.4:32). Não havia imposição por parte dos apóstolos. Tudo era voluntário. Portanto, diferente do que propõe regimes comunistas, a partilha dos bens deve ser voluntária, tanto quanto o celibato, equivocadamente exigido pelo Vaticano aos seus sacerdotes.

Chamamos “reinismo” a ideologia que deve reger a sociedade construída a partir de uma cosmovisão do reino de Deus. Reinismo, portanto, deveria ser o modus vivendis de toda comunidade legitimamente cristã.

De acordo com Paulo, o cidadão do Reino deve trabalhar, “fazendo com as mãos o que é bom, para que tenha o que repartir com o que tiver necessidade” (Ef. 4:28). Bem diferente da proposta do capitalismo que é fazer do trabalho um meio para adquirir e concentrar bens, no reinismo somos instados a trabalhar para ter o que repartir. Assim como o comunismo, o reinismo também valoriza o trabalho muito mais que o capital. Porém, cada qual deve desfrutar do resultado de seu próprio trabalho, e não usufruir ociosamente do trabalha alheio. Somente aqueles que estiverem impossibilitados de trabalhar, ou que houver sido vítimas de alguma injustiça, devem desfrutar da partilha comunitária. “Se alguém não quiser trabalhar, que também não coma”, sentencia Paulo (2 Ts.3:10-12).

Um Estado regido pela ideologia comunista tende a ser totalitário, intrometendo-se em questões que deveriam ser mantidas na esfera privada.

Qual seria o papel do Estado de acordo com a Bíblia?

“Toda alma esteja sujeita às autoridades superiores; porque não há autoridade que não venha de Deus; e as que existem foram ordenadas por Deus. Por isso quem resiste à autoridade resiste à ordenação de Deus; e os que resistem trarão sobre si mesmos a condenação. Porque os magistrados não são motivo de temor para os que fazem o bem, mas para os que fazem o mal. Queres tu, pois, não temer a autoridade? Faze o bem, e terás louvor dela; porquanto ela é ministro de Deus para teu bem. Mas, se fizeres o mal, teme, pois não traz debalde a espada; porque é ministro de Deus, e vingador em ira contra aquele que pratica o mal. Pelo que é necessário que lhe estejais sujeitos, não somente por causa da ira, mas também por causa da consciência. Por esta razão também pagais tributo; porque são ministros de Deus, para atenderem a isso mesmo.” Romanos 13:1-6

De acordo com este texto, o Estado recebeu de Deus autoridade para punir os malfeitores, ao mesmo tempo em que incentiva toda e qualquer boa iniciativa. Leis civis são implementadas para regulamentar a vida social. Quando estas leis são transgredidas, o Estado tem o direito de punir os transgressores. Mas não pára aí. O Estado também tem a obrigação de “louvar” quem faz o bem, o que pode ser interpretado como incentivar qualquer iniciativa que vise o bem comum. Isso pode incluir incentivos fiscais, como aqueles dados à cultura. Se o Estado extrapola sua esfera de atuação, seus cidadãos têm o direito de resisti-lo, denunciando-o e buscando sua reforma. O Estado deve servir como um facilitador de boas obras, oferecendo à sua população meios para tal. Desde infraestrutura para escoamento da produção, passando por incentivos fiscais, segurança, educação, saúde, saneamento básico, etc.

Já no Liberalismo/capitalismo, valoriza-se o capital em detrimento do trabalho. O consumo é incentivado a todo custo, a fim de manter a máquina a pleno vapor. Trata-se, portanto, de um sistema retroalimentado. O consumo estimula a produção, que por sua vez, promove a abertura de postos de trabalho. Segundo seus defensores, o resultado desta equação é a prosperidade da sociedade como um todo. Tudo parece muito bonito, até que nos deparamos com as palavras de Jesus: “Acautelai-vos e guardai-vos de toda espécie de cobiça; porque a vida do homem não consiste na abundância das coisas que possui.” (Lc. 12:15).

Como, então, poderíamos endossar o espírito consumista que justifica a ideologia capitalista? Um sistema erigido sobre esta ideologia só poderia está fadado a ruir.

No capitalismo a concentração de renda também é valorizada, em franca dissonância com os princípios da Palavra de Deus.

“Ai dos que ajuntam casa a casa, dos que acrescentam campo a campo, até que não haja mais lugar, de modo que habitem sós no meio da terra!”
Isaías 5:8

A justiça do reino de Deus nos impele à distribuição de renda, e não à sua concentração. Cartéis, monopólios, oligarquias, são alguns dos efeitos colaterais deste sistema capaz de corromper os valores essenciais da vida em nome do ganho.
O capitalismo também promove a exploração do trabalhador.

Apesar do discurso afirmar que todos saem ganhando, não é isso que constatamos. Quem lucra, nunca se dá por satisfeito. Os detentores dos meios de produção, bem como os banqueiros e donos dos veículos de comunicação querem sempre mais, e mais, e mais.. E ao mesmo tempo, reduzir gastos, o que pode significar redução de salários, substituição de mão-de-obra humana por máquinas, etc. Investe-se em publicidade e lobby político, ao passo que reduz-se o gasto com aqueles que mantém a máquina, os empregados. Tudo em nome da eficiência e da otimização dos lucros. Não é à toa que grandes empresas de países ricos têm se mudado para países do terceiro mundo, por saberem que lá pagarão salários menores a seus empregados. O preço pago a médio e longo prazo será incalculável. E já começou a ser pago. Vide o altíssimo índice de desemprego nesses países.

Se por um lado o capitalismo promove competitividade, fazendo com que serviços e bens de consumo sejam aprimorados, por outro lado, atravancam o desenvolvimento. Dificilmente empresas petrolíferas apoiarão iniciativas que desenvolvam veículos movidos à água, por exemplo. A menos que descubram uma maneira de tirar proveito disso. Muita coisa já foi inventada, patenteada, porém, jamais chegou às mãos do consumidor, pois ameaçam produtos já consagrados. Eu mesmo conheci um professor universitário que já nos anos 80 havia desenvolvido um motor à água. Resultado: foi demitido e teve seu projeto abortado pela Universidade, que por sua vez recebeu uma enorme soma em doação da parte de certa empresa petrolífera. No sistema capitalista, tudo é movido pela ânsia do lucro.

Governos pautados nesta ideologia estão construindo sobre areia movediça. Bem fariam em dar ouvidos à advertência bíblica: “Ai daquele que edifica a sua casa com iniquidade, e os seus aposentos com injustiça; que se serve do trabalho do seu próximo sem remunerá-lo, e não lhe dá o salário.” Jeremias 22:13

Tragicamente, esta ideologia demoníaca tem encontrado amparo no seio da igreja evangélica. A teologia da prosperidade é sua filha caçula. Sua mensagem, resultado da mistura de um gota de Evangelho com uma caixa d’água de discurso ideológico, tem sido responsável por tornar a igreja numa importante engrenagem do sistema, incentivando a alienação.

Todas as ideologias e seus respectivos sistemas estão fadados a desaparecer (1 Co.15:24-25; Hb.12:27-28). Por isso, perde tempo quem tenta conciliar a verdade do Evangelho com qualquer uma delas. Bom seria se déssemos ouvidos a Paulo, analisando tudo e retendo somente o que for bom. Nada de pacotes fechados!

Assim como não podemos sacralizar qualquer que seja a ideologia, também não podemos demonizá-la. Dos dois lados da trincheira ideológica há gente de bem, lutando pela justiça e pela verdade. Quem gosta de rotular os outros de maneira tendenciosa e preconceituosa está à serviço da discórdia, disseminando o ódio entre irmãos. Posso condenar uma linha de pensamento, mas isso não me dá o direito de sentenciar ou fomentar suspeitas sobre pessoas que pensem diferente de mim.

Cristãos que cerraram fileiras com a ala direita certamente o fizeram por identificarem naquela ideologia alguns elementos comuns ao Evangelho. O mesmo podemos falar dos que cerraram fileiras com a esquerda. Ambas as ideologias têm coisas em comum com a proposta do Evangelho, como também têm disparates que não podem ser ignorados. Há santos e pecadores de ambos os lados. Não sejamos tão severos... Nem tão ingênuos...

Em vez de lutarmos em nome de uma ou de outra, digladiando-nos uns com os outros, que tal lutarmos pela liberdade e pela justiça preconizadas na mensagem do Reino de Deus?

sexta-feira, 13 de abril de 2012

Sociedade Cristã X Mentalidade Cristã


Por Fabrício Cunha

Quando pequeno, lembro-me bem de um adesivo colado no vidro traseiro do Kadet preto de nossa família. Dizia o seguinte: “O Brasil é do Senhor Jesus. Povo de Deus, declare isso!” 

Orávamos por líderes evangélicos envolvidos em posições estratégicas na política de forma que nos beneficiassem pelo fato de estarem no poder. Nos beneficiassem não, beneficiassem a fé cristã evangélica e os seus propósitos. 

Lembro-me perfeitamente de orarmos contra a eleição de um presidente de esquerda e, depois, contra a do seu alternativo, o de direita, por ter-se declarado ateu. Cheguei a ir em reuniões onde dois candidatos evangélicos, um ao estado e outro à federação, faziam campanha para um conhecido ex-político acusado de vários crimes de corrupção pelo fato de que estavam lendo a Bíblia com ele. 

Enfim... Desde a época da formação do povo de Israel ou, de forma mais patente, da época de Jesus Cristo, nossa expectativa e propósitos se baseiam mais na formação de uma sociedade cristã do que de uma mentalidade cristã para a sociedade como um todo. 

Quem quer formar uma sociedade cristã, tem um projeto de poder. Queremos conquistar espaços estratégicos e pessoas estratégicas de forma que, ocupando tais posições, tenhamos os nossos interesses garantidos. Já vi, por exemplo, chefes evangélicos promoverem um funcionário só pelo fato de compartilharem da mesma fé e não por mérito. E quem de nós nunca ouviu a afirmação política: irmão vota em irmão”?! Mesmo que tais interesses sejam a priori bons, vivemos numa sociedade múltipla, formada por todo tipo de gente que precisa ter seus direitos e liberdade resguardadas assim como nós mesmos queremos que nossos direitos e liberdade o sejam. Assim, um projeto de tomada de poder não parece ser a melhor expressão que o corpo de Cristo pode tomar aqui na terra. 

O projeto de Jesus de Nazaré, nada tem a ver com tomada de poder mas com a formação de uma nova mentalidade baseada numa outra cosmovisão, que têm o amor como fonte de motivação e propósito final. É por isso que em várias de suas palavras, Ele inverte as lógicas do pensamento corrente, propondo uma nova forma de ver, pensar e agir. Vemos isso, por exemplo, em todo Sermão do Monte onde os protagonistas são os fracos e irrelevantes; em sua conversa com a Samaritana, onde rompe todos os paradigmas sociais para declarar-se Messias a uma mulher; no “lava pés” ao quebrar a hierarquia e colocar-se de joelhos para servir aos discípulos; em Mt 25. 35 onde estabelece a solidariedade como caminho para a glória; em sua declaração messiânica em Lc 4. 18-19 onde, de tantos textos gloriosos sobre o Messias, escolhe um que enfatiza a sua identidade mais simples. 

O projeto de Jesus não é de poder. Aliás, Filipenses 2. 5-11 nos diz claramente que seu projeto é abrir mão do poder, em vistas do amor. E Paulo começa esse texto dizendo: “seja a atitude de vocês a mesma de Cristo.” 

Portanto, estamos comprometidos não em tomar a sociedade de assalto, implementando nela um projeto cristão “guela abaixo, mas em servir a sociedade, influenciando-a por meio de uma mentalidade que é contra-cultural tantas vezes, rejeitada outras tantas, mas que ganha legalidade não pelo poder que requer, mas pela humildade constrangedora e inspiradora de quem se ajoelha, toma a toalha e a bacia e lava os pés de toda gente, sem querer nada em troca. 

Assim, quando perguntados porque somos, pensamos e agimos dessa forma, teremos legitimidade e espaço de fato para “darmos a razão de nossa fé”. Então essa revolução de amor ganhará mais e mais proporção, fazendo do Brasil não o país do Senhor Jesus, mas um país onde se vê mais e mais a face de Cristo no meio do povo. 


terça-feira, 10 de abril de 2012

A Minha Alma está Armada e Apontada para a Cara do Sossego.


Por Marcello Vieira
Certa vez Charles Spurgeon sintetizou muito bem o quê é um cristão, ele disse: “Todo cristão ou é um missionário ou é um impostor.” Uma frase radical como o evangelho.

O primeiro chamado de Jesus ao homem é a redenção. O segundo é a subversão.

Igreja e missão são sinônimos no projeto de Deus. Cristão e missionário são sinônimos nessa fase de implantação do Reino. No convite de Jesus está implícita a frase: Saia da sua zona de conforto! 
Afinal foi isso o quê ele fez. Abandonou o conforto da sua glória divina para se espremer dentro uma matéria humana.

Na verdade, Jesus foi o maior missionário de todos os tempos. E ele ordenou: Sejam meus imitadores!
E missão não é algo que a igreja tem que fazer. Missão é algo que a igreja tem que ser. Não há justificativa bíblica para institucionalizar uma igreja que não seja para transforma-la em uma agência missionária. Uma igreja que se institucionaliza e passa arrecadar dinheiro tem como dever moral patrocinar missões.

E o quê é missão?

Intervenção na história! Ação, comprometimento, sacrifícios de misericórdias.
Pregar o evangelho focando unicamente em patrulhamento moral é condensar o seu poder atômico de transformação sócio cultural. O arrependa-se não se limita aos pecados morais, mas também está em mudar as lentes, tirar o foco do umbigo. Ou seja, uma igreja bíblica é uma igreja missionária.

E quem é a igreja? 


Somos todos nós que declaramos Cristo como Senhor. 


E o quê que estamos fazendo?

Pouco! Muito pouco! Estamos acomodados nas poltronas das igrejas, estamos traçando o nosso plano de vida, estamos fundamentando o NOSSO REINO e, de quebra, usamos o nome de Deus como um patuá para nos abençoar.  Nos tornamos extremamente egoístas. Nos tornamos fariseus pós modernos, dando esmolas e apegados a uma religiosidade inútil. Uma igreja missionaria se compromete socialmente com as mazelas da sua localidade. Sem partidarismo, exercendo apenas o amor, exercendo apenas sua cidadania.

Até onde estamos indo por Jesus? Essa é uma pergunta comum quando se fala em missões, porém, eu pergunto diferente: O quê você não faria de jeito nenhum por Jesus?


Responda sinceramente essa pergunta e descubra onde está o seu coração. Descubra quem é o seu amor maior, descubra quem você idolatra em espírito e em verdade. É, seu sei. Jesus perde para o seu filho, seu cônjuge, sua carreira, seus sonhos...

A igreja não ama Jesus acima de todas as coisas, por isso, não consegue negar si mesmo e viver pelo outro. Por isso não consegue ser suficientemente relevante. E se ele não é o nosso amor maior, nunca sairemos da nossa zona de conforto, nunca seremos agentes transformadores do Reino, nunca seremos missionários, logo,  continuaremos sendo impostores! Impostores brigando pela defesa do evangelho. Somos patéticos.


Precisamos resolver isso com Ele!

Essa é a pergunta de nossas vidas.  Ao responde-la sinceramente, talvez descubramos que até hoje andamos mentindo para nós mesmos, e esse é o maior boicote que alguém pode fazer a si.

Então você pergunta: Como isso aconteceu? Eu mudei tanto! Eu parei com isso, eu parei com aquilo, ou então, eu nunca fiz isso, eu nunca fiz aquilo. A questão é que o evangelho não nos foi dado para fazer um patrulhamento moral, ele veio para restaurar à correta cosmovisão.
O problema é que você não aderiu o evangelho. Você aderiu ao movimento evangélico, e movimentos enganam, alienam e lobotomizam.

O movimento evangélico hoje no Brasil, infelizmente não tem mais nada haver com o Evangelho de Jesus. É um verdadeiro sepulcro caiado. Transparece uma paz, contudo, é uma paz inerte e muda perante o império da maldade. E paz sem voz não é paz, é medo.

Buscam desesperadamente paz para seus corações e seguem admitindo toda maldade do mundo sem rebelar-se, para assim, continuarem tentando ser felizes em suas zonas de conforto.

A institucionalidade da igreja trouxe conforto e proteção, porém, com o tempo, trouxeram dúvidas para quem as viu se transformarem em prisões. Para quem as viu se transformarem em masmorras que ferem muita gente boa de Deus.

O clamor final é: Arrependa-se igreja! Vamos resgatar a unidade, a relevância dos cristãos primitivos.

Vamos nos abraçar e fazer filhos na fé e não nos limitarmos às poltronas dos dias de domingo.

Que arda o seu coração! Que o seu espírito se rebele, assim como aconteceu com o espírito de Paulo ao ver a idolatria grega, ao ver o avanço do império da maldade. Que você seja um cristão em missão na sua realidade local. Que ricos e pobres, fortes e fracos, opressores e oprimidos, possam reconhecer Jesus em você. 

Que a sua alma esteja armada e apontada para a cara do sossego! Porque paz sem voz não é paz, é medo.