SUBVERTA

Pesquise as verdades primitivas aqui.

segunda-feira, 25 de março de 2013

Igrejas: Aprendam com os Bares! Um insight sobre músicas nos "cultos".

Por Marcello Comuna
Tenho andado sem paciência. Optei em fazer nada ao invés de ficar fazendo o mais do mesmo. Meu tempo é precioso demais e eu não sei quanto tempo tenho para ficar enxugando gelo. Não consigo mais ficar fingindo. Lembrei de uma música que diz: "Gente que tem coragem não finge". Letra do Rodolfo Abrantes, um cara de coragem que parou de fingir que era feliz no Raimundos e seguiu outro rumo, mesmo tomando muita pedrada dos "amigos". Tô nessa aí também, até encontrar meu lugar ao sol. Estou investigando.

Não tenho mais saco para o hedonismo bobo e vazio do sexo drogas e rock n' roll. Nem tão pouco para a ilusão de uma vida cheia de dogmas impostos pela religiosidade de qualquer religião. Conheci um negócio chamado Graça Divina e não tenho mais como voltar atrás. A Graça é plural em cor, som, gosto e forma. As religiões dos homens são monocromáticas.  

Isso é bem notório na escolha do repertório das músicas que são tocadas nos cultos. Quando questionados, muitos líderes e pastores afirmam que a música não é escolhida para que a igreja goste, mas para que o Eterno se agrade.

Bom, espero um dia alcançar a intimidade desses homens, porque eles sabem até quais as músicas Deus gosta. 

É lógico que não sabem. As músicas são escolhidas a partir do seu bel prazer ou de experiências transcendentais com a divindade.

Na maior parte do senso coletivo religioso o momento de “adoração” é aquele tempo em que a igreja adora a Deus através das canções, é quando as pessoas tem a oportunidade de fazer suas declarações de amor e gratidão ao Pai. Também é comum a ideia de que: “ é o momento em que os corações são preparados para o recebimento da palavra”.

Então, se é o meu momento de cantar meu amor ao Mestre, é mais do que óbvio que eu queira fazer isso com as canções que eu me identifique e aprecie. Ou por acaso alguém faz uma serenata para a amada com músicas que não suporta? Você já viu um roqueiro cantando um pagode para se declarar a sua namorada ou vice versa?

Lógico que não.

Mas se a igreja é plural, como agradar a todos?

Acontece que esse comportamento monopoliza os gostos e castra a diversidade. A igreja que deveria ser um sinalizador da eternidade, um lugar com todas as tribos adorando ao Senhor e vivendo em harmonia, tornou-se um gueto de gente singular. Gente que fala igual, ora igual, se veste igual e ouve música igual. Ou seja, a igreja não é plural! Deveria ser, mas não é! 

A preocupação não é agradar a todos, isso seria uma falácia. O questionamento aqui é a falta de diversidade em nosso meio. Nossa nação tem uma das culturas musicais mais ricas do mundo e ainda sim nossos encontros são pobres de diversidade. Toca-se o mesmo ritmo sempre - e pior, um ritmo importado!

Quantas vezes você viu um berimbau na igreja? Uma percussão? Uma sanfona? Uma gaita? Uma pick up? O quê rege as adorações da sua igreja, a música popular brasileira ou música popular americana? Sua igreja está cheia de versões das músicas estrangeiras ou dá espaço para os talentos nacionais?

A educação vem do púlpito. Enquanto o farol emitir a mesma cor de luz tudo será mais do mesmo. Os músicos estão para servir a comunidade. A comunidade deve ter o direito de opinar o que quer cantar ao Pai. Mas as comunidades se tornaram guetos de pessoas alienadas gravitando ao redor de pastores e líderes que não podem ser questionados.

A cada dia dezenas de pessoas começam a frequentar os cultos evangélicos. A cada dia dezenas de pessoas entram no ciclo da singularidade medíocre.

Ok, Comuna! Me convenceu! O que devo fazer, então?

Aprenda com os bares! (Aí meu Deus! Ele escandalizou!)

Um músico de barzinho está ali para alegrar as pessoas com belas canções. Os músicos da igreja devem ser guiados pelo mesmo principio: Direcionar as pessoas a alegria musical de declarar-se apaixonadamente a Deus com as músicas que elas gostam. Músico não é levita e nem alguém com função especial. Ele é servo como qualquer outro. Está ali para servir os irmãos que reuniram-se para ouvir reflexões sobre as Escrituras - que são o destaque da reunião. Música é complemento - cereja do bolo.

Músicos precisam abaixar a bola, principalmente líderes de louvor, que muitas vezes são os mais arrogantes de uma congregação. Parece síndrome de Lúcifer.

Enfim, de forma pragmática a mudança seria mais ou menos assim:

Crie uma caixa para coleta de sugestões de músicas;

Depois façam o filtro pelas letras. Elas devem ser sempre cristocêntricas;

A maioria do repertório deve ser em terceira pessoa. Somos uma COMUNIDADE cantando ao Pai. Precisamos de menos "meu pão" para termos mais "nosso pão". 

Valorize a pluralidade dos ritmos;

Valorize a musicalidade brasileira. A fé é universal e as igrejas devem se adaptar as culturas locais. Liberte-se do colonialismo americano! Isso não quer dizer que não possa ter estilos gringos, mas eles não devem priorizar reuniões feitas no Brasil;

(É tão óbvio que até me irrito em ter que explicar isso).

Valorize os compositores da igreja. Eu conheço um lugar onde há talentosos compositores e nenhuma de suas canções são aproveitadas. Que desperdício do dom alheio(!);

Incentive a busca pelo novo. Apresente novos artistas, principalmente os que não tocam nas rádios. Na maioria das vezes os melhores não estão lá;

Seja sincero com a congregação sobre as mudanças. Explique. Não tenha medo de parecer humano.

A priori essas são algumas ideias que veem a minha cabeça. Isso não é uma receita de bolo. É apenas uma sugestão de caminho que pode ser adaptada a realidade local.

Provavelmente sua igreja deva estar cauterizada com a mesmice que você vem aplicando ou reproduzindo há anos. Então, comece devagar. Traga o novo aos poucos. Insira duas músicas diferentes aqui, mais outra ali na frente até alcançar a pluralidade. Fuja dos rótulos. Igrejas não devem ser estigmatizadas como dos surfistas, dos skatistas, dos undergrounds, das pessoas comuns e etc. Igreja é um grupo chamado para fora com todo o tipo de gente. 

A tolerância com a diversidade deve partir de cima dos púlpitos. Como sua igreja irá aprender a conviver respeitosamente com a pluralidade se a cada encontro são feitas as mesmas coisas de sempre?

Se você está começando uma igreja, fuja dessa armadilha. Não precisamos de mais gente fazendo o mais do mesmo. Principalmente os desigrejados. Cuidado para não cometerem os mesmos erros dos seus pais usando apenas uma roupagem diferente pós moderna.

Se estou certo, que Deus te convença. Se estou errado, que Ele convença a mim.

Redenção e subversão em Cristo.



sexta-feira, 1 de março de 2013

O Rio de Deus e o Nosso Esgoto.

Porque nele vivemos, e nos movemos, e existimos; como também alguns dos vossos poetas disseram: Pois somos também sua geração. 
Atos 17:28

Paulo no Areópago discursando para os atenienses explanava esse fundamento da fé. No relato mais brilhante sobre evangelismo descrito nos atos dos apóstolos, Paulo demonstra total conhecimento sobre Graça Comum quando cita os poetas gregos para explicar a ação gestacional do Criador: “Pois somos também sua geração”.

Povo gerado: A ação de gerar vida e manter a existência. Como Senhor absoluto de todas as coisas, Deus preenche todas as lacunas do espaço físico, sobrenatural e atemporal. Sua onipresença não se limita a geografia, Ele é onipresente também no tempo. Davi cantava no passado: “Se subo o mais alto monte ou se desço o mais profundo abismo, lá está você”.

Não existe vácuo de Deus. Não há existência fora dele. A plataforma de sustentação do universo está em suas mãos. Foi isso que o Pai revelou a Pedro após a evasão dos ouvintes de Jesus. Quando o Mestre pergunta: “Vocês também não vão?”. O pescador responde: “Para onde iremos se só Tu tens as palavras de vida eterna?”. Tudo que pensamos e realizamos nele fazemos. Nele acordamos e dormimos, subimos e descemos, paramos e nos movimentamos: Nele existimos.

E Nele pecamos.

Eis a gravidade do pecado sobre toda espécie. Quando um pecado é cometido, é cometido sobre, sob e em Deus. Moisés foi convidado a retirar suas sandálias por estar entrando em solo santo. Nós estamos inseridos em uma existência totalmente sagrada, porque quem permite a vida é o Sagrado. O nosso pecado é como um balde de esgoto sobre o manto alvo do Criador.  É por isso que Pedro conversando com Cristo após o episódio do jovem rico o questiona perplexo: “Então quem poderá se salvar”?

O jovem rico era um judeu padrão. Nos tempos de hoje ele é como muitos. Criado na igreja, observador da bíblia, freqüentador da escola bíblica dominical e estudioso; sem beber, fumar ou cheirar coisa alguma, guardando-se sexualmente para o casamento e etc. Padrão. Religioso padrão. Seguindo o esquema – sem fugir do roteiro de bom moço católico/evangélico.

Ainda sim, essas coisas não eram garantias de acesso ao Reino dos Céus. Quando o jovem interpela Jesus sobre o que faltava para salvação, o Mestre é enfático e o leva a uma viagem dentro das câmaras do seu coração, descortinando a demagogia daquele moço que observava os mandamentos desde menino, contudo, ainda não os tinha absorvido no seu interior. Cristo o desafia a encarnar a mensagem que ele estudava desde sua infância com duas ações:

1 – Vender tudo que tinha e doar aos pobres. Não se tratava de dinheiro, de comunismo ou qualquer ideologia. Tratava-se de viver em prol do outro. Tratava-se de amar a Deus acima de todas as coisas e o próximo como a si mesmo. Os dois maiores mandamentos. O jovem atendia o padrão do sistema, mas não o de Deus.

2 – Seguir o Cristo de Deus. Há uma diferença entre ser convencido no Evangelho e ser convertido pelo Evangelho. Milhares de pessoas escutam o Evangelho desde pequenos, mas são incapazes de reconhecer o Senhor em uma esquina. As ovelhas reconhecem a voz do seu pastor. Somos chamados ao privilégio de caminhar o caminho de Cristo, ele é o caminho. Não há outro alvejante além do sangue de Jesus capaz de limpar a podridão do esgoto que derramamos sobre a plataforma santa do Criador. Blasfemamos contra um Deus santo no nosso pecado e por isso somos dignos de sua ira. Salvação para nós é impossível – mas o Amor faz possível todas às coisas.

O Pai sustenta a existência no sacrifício do Filho. O Filho é a reconciliação. O filtro que côa nossos pecados e que aplaca a ira causada por nossas transgressões.

Se Nele nos movemos, vivemos, existimos e pecamos. Somente Nele somos perdoados e justificados.

Nele sejamos abençoados.

Amém.

terça-feira, 7 de agosto de 2012

O que você quer que Eu te faça?




Uma característica marcante no ministério de Jesus era a sua capacidade de trabalhar com o homem em sua individualidade. Mesmo sendo constantemente acompanhado e às vezes sufocado por uma imensa multidão, Jesus dedicava um tempo imenso a tratar de forma individual com muitos que ele encontrava pelo caminho.

Em seus encontros pessoais Jesus não apresentava uma mensagem
pre-formatada, forçando o homem a se adaptar a ela, mas o Senhor tratava cada individuo em seu nível pessoal, de acordo com a estação de vida em que a pessoa estava vivendo e levando em consideração as sua limitações e aspirações.
 

Só para citar alguns exemplos: com Nicodemos o ajudou a entender o quanto a sua religiosidade o impedia de ver o novo de Deus; com a mulher samaritana a ajudou a se encontrar em meio a conflitos pessoais; ao homem da mão mirrada, certamente estigmatizado por uma sociedade que classificava qualquer problema físico como um pecado ou maldição, o chamou para o meio, para que todos o percebesse e lhe deu visibilidade antes mesmo de curá-lo.
 

Basicamente a postura de Jesus era como ele sempre perguntasse: o que você quer que eu te faça? Na verdade para um cego ele perguntou isso mesmo. Jesus parava para ouvir as perguntas das pessoas, o que de fato elas estavam falando, ele parava para ouvir a batida do seu coração. Parece redundante, mas cada um era cada um e devia ser tratado de forma individualizada. 
 

Isso nos chama muito a atenção, pois nos dias de hoje tratamento individualizado só nos remete às empresas que investem na qualidade do atendimento, simplesmente no âmbito mercantilista cliente-prestador de serviço. Nos dias de hoje, numa igreja cada vez mais massificada, onde a quantidade tem uma qualidade em si mesma, onde vemos uma linha de produção de "conversões" e "milagres", não se tem tempo para ouvir as pessoas, suas histórias de vida e suas limitações e aspirações como Jesus fez. Sendo assim o individuo se vê massificado, forçado a se identificar com a mensagem geral, do contrário não tem opção, a não ser cair fora. Simples assim. e aumentar o número dos "sem igreja" ou "desviados".
 

Em uma linha de produção gospel as programações tem que ser generalizadas e a mensagem realmente pre-formatada com jargões e clichês, seja essa mensagem falada ou cantada. Parar para ouvir, parar para caminhar no ritmo de cada um, atrapalha o processo, emperra a produção, e conseqüentemente as metas não são atingidas. Alcançar o número de um milhão de almas! O que isso realmente significa? Uma igreja com 1.000 ou 10.000 pessoas é de fato relevante é sua comunidade só por seu tamanho? Tamanho é documento? 
 

Uma igreja deve ser relevante em sua comunidade não por seu tamanho, poder aquisitivo ou capacidade de mobilização, mas sim porque se importa com as pessoas, caminha com elas em amor, as suporta em suas necessidade, e como Jesus, pergunta ao individuo: o que você quer que eu te faça?
 

Independente do nosso tamanho, podemos e devemos como Igreja de Cristo amar as pessoas e nos dedicarmos a elas e ajudá-las como fez o Senhor, percebendo o seu contexto de vida, intervindo em seu cenário (família, comunidade, etc) e assim fazendo do micro alcançaremos o macro. Como disse Margareth Mead: "Nunca duvide da capacidade de um pequeno grupo de dedicados cidadãos para mudar os rumos do planeta. Na verdade, eles são a única esperança de que isso possa ocorrer".
 

Pense nisso, fale sobre isso!
 

David &  Célia
Pelo Rei e pelo Reino

David e Célia são missionários da Jocum em missão aqui no Rio de Janeiro. Seus trabalhos são de extrema relevância na comunidades carentes e zonas de conflitos sociais. São meus amigos pessoais e sendeiros luminosos do Reino. Para mim, é uma honra e um cuidado de Deus tê-los no meu hall de amigos. Orem por eles e por seus dois filhos, Levi e Rebecca.

sábado, 23 de junho de 2012

A Igreja precisa aprender com o Green Peace.

 

Por Marcello Comuna
Calma, deixe me explicar.

Temos observado uma conscientização mundial a respeito do crescimento sustentável. Sustentabilidade entrou para a pauta das grandes preocupações entre os líderes de todo o mundo. O tema se tornou centro de campanhas mundiais por uma racionalização do uso dos recursos naturais.

Tem sido a causa apaixonada de muitos jovens por todo o planeta, levando-os às ruas em manifestações pacíficas. Tem inspirado até mesmo à produtores, artistas e astros do rock. Os mesmos têm doado parte de seus cachês em favor da causa. Cada vez é maior o número dos eventos para arrecadação de fundos para campanhas em prol da recuperação e conservação da natureza. Recentemente, tivemos o festival SWU em uma fazenda na cidade de Itú - SP, aonde foi montada uma mega estrutura para receber centenas de artistas iniciantes e consagrados, como Rage Against the Machine (a melhor banda do festival) e Link Park. Toda a o organização e estrutura do evento foram direcionadas para agir em sinergia com a natureza ao redor sem prejudicá-la.

Rage Against the Machine no SWU

Mas nem sempre foi assim. Na verdade esse movimento pela sustentabilidade ainda é um bebê. Há tempos os cientistas, geógrafos, arqueólogos e ambientalistas, vêem alertando sobre os perigos do crescimento desenfreado promovido pelo capitalismo selvagem. Sempre foram tratados como fatalistas e exagerados, eram vistos como os profetas que anunciavam uma catástrofe que ainda estava muito longe de vir, se é que viria.

Porém, contra fatos não há argumentos. E mais convincente do que qualquer argumento científico, foi a humanidade começar a presenciar tsunamis varrendo litorais inteiros, geleiras gigantescas desmoronando sob o sol cada vez mais forte elevando os níveis dos oceanos, enchentes, situações climáticas atípicas nas estações do ano, calor insuportável às 08:00 horas da manhã, espécies e mais espécies sendo extintas do planeta.

O mundo entrou em alerta. E aos poucos, medidas e leis governamentais vão sendo criadas para que o planeta não se desmanche sob os nossos pés.

Agora, deixe me fazer uma analogia com a situação da igreja nos dias de hoje.

A igreja evangélica tem crescido assombrosamente nas últimas décadas, e a maioria dos crentes vêem nisso uma vitória, porém, existe um grupo menor, como os cientistas supracitados, mandando um recado que tem se propagado cada vez mais. O recado é:

A igreja não está crescendo! A igreja está inchando! Parem agora!

Um corpo inchado é um corpo doente!

O princípio destrutivo do capitalismo de crescer a qualquer custo visando sempre o lucro penetrou na mentalidade dos líderes eclesiásticos. Igrejas estão sendo transformadas em empresas. E o pior, alegam que esse crescimento faz parte do avivamento prometido pelo Senhor!

Heresia!!!

Aonde o avivamento verdadeiro chega a subversão acontece. As coisas começam a sair do lugar (ou entrar, depende do ponto de vista), o mundo vira de pernas para o ar. Atos 17.6

A Bíblia diz que quando a Luz chega as trevas saem. Olhe ao redor, cadê as evidencias desse tal avivamento? Existe paz? Existe uma crescente moralidade? Pelo contrário, a violência e a imoralidade crescem a cada dia. Não se engane com esse inchaço, meu camarada.

Esse crescimento não é obra do Espírito Santo, trata-se puro e simplesmente de princípios empresariais de crescimento aplicados sobre um povo doente, cansado, desesperançoso, que são atraídos por falsas promessas de um triunfalismo capitalista. Afinal, quem não quer se dar bem?

Assim como a humanidade está descobrindo maneiras eficazes de continuar se desenvolvendo com sustentabilidade, a igreja precisa voltar a pensar na qualidade, na maturidade desses que estão lotando os templos evangélicos em todo o país.

Assim como os líderes mundiais se reúnem para discutir maneiras de alcançar um crescimento sustentável, os líderes eclesiásticos remanescentes, aqueles que não se deixaram contaminar com essa teologia maldita da prosperidade, deveriam se unir em prol de um grande movimento de retorno do evangelho genuíno, o único elemento capaz de garantir um crescimento com sustentabilidade, e não permanecerem omissos diante desse cenário dantesco. Como diria Luther King: “O que me preocupa não é o barulho dos maus, mas o silêncio dos bons”.

Ao invés da Marcha para Jesus que se tornou puro comércio e instrumento de barganha para políticos interessados nos votos dos crentes, proponho uma Marcha pelo Retorno do Evangelho Genuíno.
Uma busca por aqueles que se perderam por conta dos escândalos. Uma marcha com uma pregação apologética, libertando as pessoas das doutrinas judaizantes, do sincretismo religioso que trouxe os atos proféticos e pontos de contato da fé para o nosso meio, responsáveis por manter os cristãos supersticiosos e mancos em sua cristandade. Uma marcha pregando a verdadeira liberdade para que Cristo nos libertou.

Tenho fé que o avivamento realmente já tenha começado nesse país, mas ele não está sendo evidenciado através dos teles pastores, na construção da réplica do templo de Salomão, nas inúmeras igrejas e denominações novas que se abrem em cada esquina, tão pouco com a aliança entre Rede Globo e pop stars gospels.

Ele começou no desejo ardente de homens e mulheres de Deus que não tem se calado por todo esse país. Homens e mulheres que tem colocado a cara a tapa, pregando o evangelho puro e simples, indo contra essa moda evangélica que se propaga.

Não basta traçar estratégias de crescimento, é preciso pensar na sustentabilidade. Nesse caso, a sustentabilidade está no incentivo da maturidade espiritual do novo e velho convertido. E essa maturidade somente é alcançada através do evangelho puro e simples, o genuíno, o que custava a vida dos nossos irmãos primitivos, e que hoje, tem custado a vida de tantos outros pelo mundo.

Caso contrário, continuarão a se propagar cristãos “bola de neve” (nenhuma alusão a igreja, pelo amor de Dio!), começam pequenos, vão crescendo, arrastando tudo pela frente, se transformam em uma avalanche, e depois vão perdendo a força até encontrar um obstáculo (as circunstâncias da vida) que os pare. Depois o sol se encarrega de dissipá-los com seu calor.

Finalizo agradecendo ao Pai por ter me impedido de ir em frente com um ministério quando eu era um menino influenciado por doutrinas judaizantes, por achismos, por clichês gospels e por um evangelho cheio de equívocos teológicos. Sei que seria difícil retornar as origens do evangelho já tendo toda uma estrutura montada sobre um monte de deturpações. Dar o braço a torcer, parar, abandonar a “visão”, deixar de arrecadar altas quantias de dinheiro, retroceder para pegar a rota certa.

Aos que se vêem nesse dilema sugiro que reflitam sobre 1º Tessalonicenses 3.4.

Não ame mais a sua “visão” do que as Verdades das Escrituras. Cresça com sustentabilidade, mesmo que isso te custe coisas valiosas na terra. Lembre-se que nossa pátria está nos céus.

Deus abençoe.

*O Greenpeace é uma organização global e independente que atua para defender o ambiente e promover a paz, inspirando as pessoas a mudarem atitudes e comportamentos. Informação do site.


Publicado originalmente em dezembro de 2010.


quarta-feira, 23 de maio de 2012

Façamos Obras Maiores Que as de Cristo



"E, quando aqueles homens chegaram junto dele, disseram: João o Batista enviou-nos a perguntar-te: És tu aquele que havia de vir, ou esperamos outro?
E, na mesma hora, curou muitos de enfermidades, e males, e espíritos maus, e deu vista a muitos cegos.
Respondendo, então, Jesus, disse-lhes: Ide, e anunciai a João o que tendes visto e ouvido: que os cegos vêem, os coxos andam, os leprosos são purificados, os surdos ouvem, os mortos ressuscitam e aos pobres anuncia-se o evangelho". Lucas 7:20-22

Por Marcello Vieira
O povo crerá por conta dos sinais (João 4.48). Quando se fala em sinais muitos pensam em cegos físicos sendo curados, paralíticos levantando - e andando, mortos ressuscitando. É verdade que esses sinais foram frequentes no ministério de Cristo e que ele nos deu poder para repeti-los através do Espírito Santo. Porém, os sinais não se limitam aos prodígios. Na verdade, encarando nosso contexto histórico e social, penso que as obras maiores que o Messias disse que faríamos estão além dessas maravilhas.

Em mundo com tanto caos, pobreza e injustiça, a igreja é desafiada a ter sua luz mais brilhante do que em qualquer outro momento da história. A igreja tem o desafio de salgar mais do que em qualquer outro tempo. Os moribundos estão por toda parte. Milhares de pessoas vitimizadas por um sistema corrupto não tem a oportunidade e nem os subsídios básicos para começarem a lutar com reais chances de vencer. As almas dos povos estão infectadas pela desesperança e pela humilhação social que lhe foram imputadas. Além do juízo vindouro, milhares de pessoas já padecem em um inferno social e psicológico. A alma do ser humano nunca foi tão maltratada - as doenças da psique crescem em grande escala. A corrupção e a afronta dos políticos elevam seus níveis de ousadia garantindo-se na impunidade da justiça e na letargia pacífica de um povo que não tem acesso a educação de qualidade. Um povo que é facilmente distraído com futebol e novela.

 E dentro desse contexto estamos nós, a igreja de Jesus Cristo, aqueles que foram chamados para fora para trazer boas notícias. Fomos plantados por Deus no olho do furacão, temos em nossas mãos o verdadeiro remédio para toda essa miséria humana, temos a oportunidade de realizar as obras maiores que Jesus nos habilitou para fazer.

Nossos sinais devem ir além de indivíduos, o evangelho é coletivo. Observe que diante do questionamento de João Batista a respeito de sua divindade, Cristo entra em atividade física e começa a transformar a vida de quem está ao redor. Somente depois ele responde: "Contai a João o quê tem visto e ouvido: que os cegos enxergam, os paralíticos andam, os leprosos são purificados, e os surdos ouvem; os mortos são ressuscitados e o evangelho é anunciado aos pobres". Ele nem precisa auto afirmar que era o Messias, apenas manda que se relate os fatos - porque contra fatos não há argumentos.

A igreja precisa realizar os sinais. Muito mais do que pregadores realizando prodígios (suspeitos) na televisão, precisamos interferir na realidade da nossa comunidade. Olhar para fora e subverter o caos. A corrupção assola nossa pátria, os heróis morreram de overdose e se sujaram no esgoto da corrupção. Cabe a nós gritar por justiça, cabe a nós estender as mãos, cabe a nós trazer a visão aos cegos na alma, cabe a nós trazer o movimento as pernas daqueles que foram aleijados pelas circunstâncias, cabe a nós abrir os ouvidos dos que não ouvem, mas não com nossos berros de moralismo, mas com atitudes corroboradoras do amor que anunciamos.

Menos marcha para Je$u$, mais Marcha pelo Caminho, pela Verdade e pela Vida! Mostremos os sinais! Façamos as obras maiores transformando a realidade ao nosso redor com o poder do Evangelho.

Deus nos ajude!


quarta-feira, 16 de maio de 2012

Escândalo ou Choque Cultural?


Por Marcello Vieira

O quê é escandalizar?

Sempre tentei compreender o dogma do escândalo. Desde que me aventurei a conviver entre os evangélicos, fui bombardeado com um novo idioma - um novo dialeto. Dentro desse universo passei a ouvir constantemente as expressões - escândalo e escandalizar. Os alertas eram muitos para não escandalizar ninguém, principalmente os irmãos. Em muitas situações, me parecia que o simples fato de desagradar alguém com algum comportamento seria um escândalo. Usando Lucas 17.1, me mostravam como Jesus reprovava os escândalos e como a pena é severa para esse delito – afogar-se no mar com uma pedra amarrada no pescoço!  Jesus é amor, mas às vezes ele é meio intolerante – pensava eu.

As afirmações e interpretações a respeito do escândalo são tantas que tenho a impressão que para muitas pessoas, essa palavra tem vários significados e pode até mesmo passar por uma metamorfose em certas circunstâncias. Dentro da nossa cultura ocidental, segundo o dicionário da língua portuguesa, escândalo é:

Coisa indecorosa, contrária aos bons costumes.
Estado de perplexa indignação suscitado por palavra ou ato reprovável: com grande escândalo do auditório.
Procedimento desabrido que causa vexame ou constrangimento; altercação, querela; algazarra, tumulto: dar escândalo em público.
 Dicionário Online de Português

Porém, sabemos que devemos ler as Escrituras Sagradas sob a luz da hermenêutica e da exegese.

Então, levando em consideração que Lucas foi escrito em grego e levando em consideração as circunstâncias em que Jesus pronunciou essas palavras, a interpretação contemporânea não traduz o significado de escândalo na pronuncia de Jesus. E se isso é verdade, todo o dogma criado em cima do conceito popular evangélico sobre escândalo está equivocado.
Partindo do significado original grego de que escândalo (skandalon) é um obstáculo, é de se pensar que o ato de escandalizar tem muito mais haver com um ensino do que com ato, comportamento ou cultura de alguém.

Ou seja, escândalo é uma coisa, chocar o seu preconceito é outra totalmente diferente. Pare de usar Jesus para corroborar o seu desejo por singularidade e sua incapacidade de viver em pluralidade.

Quando Jesus disse que os escândalos seriam inevitáveis e que coitados seriam aqueles por quais esses escândalos viessem, penso que ele estava se referindo muito mais a ensinos que obstruiriam as pessoas de chegarem até Deus do que de comportamentos. Principalmente quando vemos que antes dessa afirmativa, o Messias vinha fazendo uma dura crítica aos fariseus, que eram os mestres de ensino da época.

Lembro-me do bispo Walter Maclister falando sobre a banalização do sacramento. Acredito que essa banalização foi aplicada ao escândalo, o quê é de fato, extremamente nocivo às pessoas. Penso que isso seja fruto da arrogância das pessoas que sempre tentam usar a bíblia para corroborar seus achismos e ponto de vista.

Com isso, vemos as pessoas usando a expressão escandalizar para imputar sobre os outros suas normas de comportamento e gostos pessoais, tornando-se comum ouvir irmão exortando outro irmão sobre vestimentas, culturas, gostos musicais e hábitos culturais sob o juízo do escândalo.

Será que os jovens tatuados na igreja, de brinco e piercing são um obstáculo para que os anciãos alcancem a salvação?  

E os irmãos mais contextualizados culturalmente, também seriam um entrave para a salvação dos mais tradicionais? E vice versa?

É óbvio que não! O quê eles são, no máximo, é um choque cultural! Um abalo sísmico no preconceito e nas predefinições.

No Antigo Testamento, Deus sempre se referiu ao escândalo como um obstáculo para se chegar até a Ele. O próprio Cristo foi chamado de Rocha de escândalo, pois ele foi um obstáculo para a salvação dos judeus.

Paulo afirma: "Mas nós pregamos a Cristo crucificado, que é escândalo para os judeus, e loucura para os gregos". 1º Co 1.23

O próprio Jesus adjetivou Satanás como um escândalo, um obstáculo, quando usou a boca de Pedro para tentar impedi-lo na conclusão de sua obra.

“Ele, porém, voltando-se, disse a Pedro: Para trás de mim, Satanás, que me serves de escândalo; porque não compreendes as coisas que são de Deus, mas só as que são dos homens”.  Mateus 16:23

Existe muita gente sendo defraudada em sua liberdade em Cristo por conta de uma compreensão errada sobre que o quê é escandalizar alguém. É impossível agradar a todos. Chocar preconceitos não é escandalizar.

Viva sua liberdade em Cristo trazendo na sua mente a seguinte consideração quanto as suas atitudes e ensinos: "Será isso um obstáculo para a salvação de alguém ou apenas um tremor inevitável do convívio entre seres humanos diferentes e plurais"?

Pense melhor em continuar banalizando esse vocábulo que carrega em si uma grande responsabilidade. Penso ser essa a lente correta para ler-se escândalo nas Escrituras.

Deus abençoe!


segunda-feira, 14 de maio de 2012

Pobreza e (com) Paixão.


Se eu dou comida a um pobre, me chamam de
santo, mas se eu pergunto por que ele é pobre,
me chamam de comunista.” (Dom Hélder Câmara)
Por Nei Alberto Pires 
A defesa das causas dos pobres é uma tarefa muito árdua. Exige da gente mais do que compreensão, discursos e teorias, mas, sobretudo, compromisso e compaixão. Somos muito preconceituosos para com o sofrimento dos pobres.
Desconhecemos sua realidade e não nos dispusemos a mexer na raiz de nossos problemas: a nossa forma de organizar o mundo. Entre nós é muito forte a idéia de que pobres são coitados, por isto desprovidos de sorte e de bens. Se não lutam, são preguiçosos. Se lutam e exigem, tornam-se perigosos. Mesmo quando passam fome, a gente insiste em dizer que eles ainda são capazes de sonhar.
Só a lucidez da razão e a sensibilidade podem tratar bem das questões da existência e convivência humanas. Na visão ocidental, desenvolvemos a ilusão de que somente a razão nos dará respostas aos problemas humanos. Nem a razão ornamental (que serve de ornamento), nem a razão instrumental (ferramenta para transformar a realidade) são capazes de justificar o sofrimento e a realidade daqueles que excluímos socialmente (os pobres). Os pobres não são invenção, não são uma ideia. Os pobres são reais. Os pobres existem, e sofrem a violação de sua vida e dignidade.
Leonardo Boff, defensor incansável das causas dos pobres e oprimidos, afirma que são três as compreensões que se tem da pobreza. Uma primeira, clássica, é a ideia de que o pobre é aquele que não tem. A estratégia então é mobilizar quem tem para ajudar a quem não tem, através de ações assistencialistas, sem reconhecer a potencialidade dos mesmos. A segunda ideia, moderna, é aquela que descobre os potenciais do pobre e compreende que o Estado deve fazer investimentos para que ele seja profissionalizado e potencializado, com fins à inserção no mundo produtivo. Ambas as posições desconsideram, na visão de Boff, que a pobreza é resultado de mecanismos de exploração, que sempre geram enormes conflitos sociais. Boff acredita que é preciso reconhecer as potencialidades dos pobres não apenas para engrossarem a força de trabalho, mas principalmente para transformarem o sistema social. Os pobres, organizados e articulados com outros atores da sociedade, são capazes de construir uma democracia participativa, econômica e social. “Essa perspectiva não é nem assistencialista nem progressista. Ela é libertadora”,a firma Boff.
Só a compaixão reveste-se de libertação. Compaixão não é sofrer pelos outros, mas sofrer com eles. O sofrer com os outros permite à gente colocar-se em seu lugar. Enxergar a partir dos seus pontos de vista e de suas realidades. É também deixar-se transformar, permitindo que os nossos mais nobres sentimentos se traduzam em ações concretas a favor dos pobres, fracos e marginalizados.
Poucos vivem a compaixão. Muitos perderam a sensibilidade, o que os impossibilita de viver a caridade e o amor ao próximo. Outros preferem atribuir aos pobres a culpa por sua situação de miséria e vulnerabilidade. Outros discursam democracia, não perguntando se esta propicia as mesmas condições e oportunidades a todos, como ponto de partida. Põe que o ponto de chegada depende de cada um de nós. E muitos, em grande número, tratam como crime a atitude de quem luta por causas humanitárias, quando estas exigem uma mudança na estrutura e organização da sociedade.“As pessoas são pesadas demais para serem levadas nos ombros. Leve-as no coração”, disse Dom Hélder Câmara. Este é o sentido maior da compaixão para com os pobres: não os defendemos por serem bons ou anjos, mas porque são parte de uma sociedade desigual, que não sabe lidar com eles.
Nei Alberto Pies é professor e ativista em direitos humanos.