SUBVERTA

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quarta-feira, 7 de março de 2012

O que a Esquerda deveria Aprender com a Verdadeira Igreja



“As massas de homens que nunca são abandonadas pelos sentimentos religiosos 
então nada mais vêem senão o desvio das crenças estabelecidas. 
O institnto de outra vida as conduz sem dificuldades 
ao pé dos altares e entrega seus corações aos preceitos 
e às consolações da fé.”
Alexis de Tocqueville, “A Democracia na América” (1830), p. 220. 
Publicado originalmente no sensho via Pavablog
No Brasil, um novo confronto, na forma como dado e cada vez mais evidente e violento, será o mais inútil de todos: o do esclarecimento político contra o obscurantismo religioso, principalmente o evangélico, pentecostal ou, mais precisamente, o neopentecostal. Lamento informar, mas na briga entre os dois barbudos – Marx e Cristo – fatalmente perderemos: o Nazareno triunfa. Por uma razão muito simples, as igrejas são o maior e mais eficiente espaço brasileiro de socialização e de simulação democrática. Nenhum partido político, nenhum governo, nenhum sindicato, nenhuma ONG e nenhuma associação de classe ou defesa das minorias tem competência e habilidade para reproduzir o modelo vitorioso de participação popular que se instalou em cada uma das dezenas de milhares de pequenas igrejas evangélicas, pentencostais e neopentecostais no Brasil. Eles ganharão qualquer disputa: são competentes, diferentemente de nós.
Muitos se assustam com o poder que os evangélicos alcançaram: a posse do senador Marcello Crivela, também bispo da Igreja Universal do Reino de Deus, no Ministério da Pesca e a autoridade da chamada “bancada evangélica” no Câmara dos Deputados são dois dos mais recentes exemplos. Quem se impressiona não reconhece o que isso representa para um a cada cinco brasileiros, o número dos que professam a fé evangélica ou pentecostal no Brasil. Segundo a análise feita pela Fundação Getúlio Vargas (FGV), a partir dos microdados da Pesquisa de Orçamento Familiar 2009 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a soma de evangélicos pentecostais e outras denominações evangélicas alcança 20,23% da população brasileira. Outros indicadores sustentam que em 1890 eles representavam 1% da população nacional; em 1960, 4,02%.
O crescimento dos evangélicos não é um milagre, é resultado de um trabalho incansável de aproximação do povo que tem sido negligenciado por décadas pelas classes mais progressistas brasileiras. Enquanto a esquerda, ainda na oposição política, entre a abertura democrática pós-ditadura e a vitória do primeiro governo popular no Brasil, apenas esbravejava, pastores e missionários evangélicos percorreram cada canto do país, instalaram-se nas regiões periféricas dos grandes centros urbanos, abriram suas portas para os rejeitados e ofereceram, em muitos momentos, não apenas o conforto espiritual, mas soluções materiais para as agruras do presente, por meio de uma rede comunitária de colaboração e apoio. O que teve fome e dificuldade, o desempregado, o doente, o sem-teto: todos eles, de alguma forma, encontraram conforto e solução por meio dos irmãos na fé. Enquanto isso, a esquerda tinha uma linda (e legítima) obsessão: “Fora ALCA!”.
________________________________________________O crescimento dos evangélicos não é um milagre,
é resultado de um trabalho incansável
de aproximação com o povo
Desde Lutero, a fé como um ato de resistência (Life of Martin Luther and and the Heros of Reformation, litografia, 1874)
O mapa da religiosidade no Brasil revela nossa incompetência social: os evangélicos e pentecostais são mais numerosos entre mulheres (22,11% delas; homens, 18,25%), pretos, pardos e indígenas (24,86%, 20,85% e 23,84%, respectivamente), entre os menos instruídos (sem instrução ou até três anos de escolaridade: 19,80%; entre quatro e sete anos de instrução: 20,89% e de oito a onze anos: 21,71%) e na região norte do país, onde 26,13% da população declara-se evangélica ou pentecostal. O Acre, esse Estado que muitos acham que não existe, blague infantilmente repetida até mesmo por esclarecidos militantes de esquerda, tem 36,64% de evangélicos e pentecostais. É o Estado mais evangélico do país. Simples: a igreja falou aos corações e mentes daqueles com os quais a esquerda nunca verdadeiramente se importou, a não ser em suas dialéticas discussões revolucionárias de gabinete, universidade e assembleia.
O projeto de poder evangélico não é fortuito. Ele não nasceu com o governo Dilma Rousseff. Ele não é resultado de um afrouxamento ideológico do PT e nem significa, supõe-se, adesão religiosa dos quadros partidários. Ele é fruto de uma condição evangélica do país e de uma sistemática ação pela conquista do poder por vias democráticas, capitalizada por uma rede de colaboração financeira de ofertas e dízimos. Só não parece legítimo a quem está do lado de fora da igreja, porque, para cada um dos evangélicos e pentecostais, estar no poder é um direito. Eles não chegaram ao Congresso Nacional e, mais recentemente, ao Poder Executivo nacional por meio de um golpe. Se, por um lado, é lamentável que o uso da máquina governamental pode produzir intolerância e mistificação, por outro, acostumemo-nos, a presença deles ali faz parte da democracia. As mesmas regras políticas que permitiram um operário, retirante nordestino e sindicalista chegar ao poder são as que garantem nas vitória e posse de figuras conhecidas das igrejas evangélicas a câmaras de vereadores, prefeituras, governos de Estado, assembleias legislativas e Congresso Nacional. O lema “un homme, une voix” (“um homem, uma voz”) do revolucionário socialista L.A. Blanqui (1805-1881), “O Encarcerado”, tem disso.
Afora a legitimidade política – o método democrático e a representação popular não nos deixam mentir – a esquerda não conhece os evangélicos. A esquerda não frequentou as igrejas, a não ser nos indefectíveis cultos preparados como palanques para nossos candidatos demonstrarem respeito e apreço pelas denominações evangélicas em época de campanha, em troca de apoio dos crentes e de algumas imagens para a TV. A esquerda nunca dialogou com os evangélicos, nunca lhes apresentou seus planos, nunca lhes explicou sequer o valor que o Estado Laico tem, inclusive como garantia que poderão continuar assim, evangélicos ou como queiram, até o fim dos tempos. E agora muitos militantes, indignados com a presença deles no poder, os rechaçam com violência, como se isso resolvesse o problema fundamental que representam.
________________________________________________A esquerda nunca dialogou com os evangélicos,
nunca lhes apresentou seus planos,
nunca lhes explicou sequer o valor do Estado Laico
George Whitefield (1714-1770) pregando nas colônias britânicas
Apenas quem foi evangélico sabe que a experiência da igreja não é puramente espiritual. E é nesse ponto que erramos como esquerda. A experiência da igreja envolve uma dimensão de resistência que é, de alguma forma, também política. O “não vos conformeis com este mundo, mas transformai-vos pela renovação do vosso espírito” (Paulo para os Romanos, capítulo 12, versículo 2) é uma palavra de ordem poderosa e, por que não, revolucionária, ainda que utilizada a partir de um ponto de vista conservador.
Em nenhuma organização política o homem comum terá protagonismo tão rápido quanto em uma igreja evangélica. O poder que se manifesta pela fé, a partir da suposta salvação da alma com o ato simples de “aceitar Jesus no coração como senhor e salvador”, segundo a expressão amplamente utilizada nos apelos de conversão, transforma o homem comum, que duas horas antes entrou pela porta da igreja imundo, em um irmão na fé, semelhante a todos os outros da congregação. Instantaneamente ele está apto a falar: dá-se o testemunho, relata-se a alegria e a emoção do resgate pago por Jesus na cruz. Entre os que estão sob Cristo, e são batizados por imersão, e recebem o ensino da palavra, e congregam da fé, não há diferenciação. Basta um pouco de tempo, ele pode se candidatar a obreiro. Com um pouco mais, torna-se elegível a presbítero, a diácono, a liderança do grupo de jovens ou de mulheres, a professor da escola dominical. Que outra organização social brasileira tem a flexibilidade de aceitação do outro e a capacidade de empoderamento tal qual se vêem nas pequenas e médias igrejas brasileiras, de Rio Branco, das cidades-satélite de Brasília, do Pará, de Salvador, de Carapicuíba, em São Paulo, ou Santa Cruz, no Rio de Janeiro? Nenhuma.
Se esqueçam dos megacultos paulistanos televisionados a partir da Av. João Dias, na Universal, ou da São João, do missionário R.R. Soares. Aquilo é Broadway. Estamos falando destas e outras denominações espalhadas em todo o território nacional, pequenas igrejas improvisadas em antigos comércios – as portas de enrolar revelam a velha vocação de uma loja, um supermercado, uma farmácia – reuniões de gente pobre com sua melhor roupa, pastores disponíveis ao diálogo, festas de aniversário e celebrações onde cada um leva seu prato para dividir com os irmãos.  A menina que tem talento para ensinar, ensina. O irmão que tem uma van, presta serviços para o grupo (e recebe por isso). A mulher que trabalha como faxineira durante a semana é a diva gospel no culto de domingo à noite: canta e leva seus iguais ao júbilo espiritual com os hinos. A bíblia, palavra de ninguém menos que Deus, é lida, discutida, debatida. Milhares e milhares de evangélicos em todo o país foram alfabetizados nos programas de Educação de Jovens e Adultos (EJAs) para simplesmente “ler a palavra”, como dizem. Raríssimo o analfabeto que tenha sido fisgado pela vontade ler “O Capital”, infelizmente. As esquerdas menosprezaram a experiência gregária das igrejas e permaneceram, nos últimos 30 anos, encasteladas em seus debates áridos sobre uma revolução teórica que nunca alcançou o coração do homem comum. Os pastores grassaram.

segunda-feira, 5 de março de 2012

Deixei de Ser Evangélico - Sou Demais Pra Esse Quintal!




Por Marcello Vieira
Diante da necessidade humana exacerbada de rotular o outro, de colocar tudo dentro de uma caixinha ou de uma fórmula, há de reconhecer-se que houve grande banalização do sacramento, do puro e do divino por conta da falta de ética religiosa e ferozes ataques do relativismo. O quê é santo? O quê é puro? Vivemos em uma Era que crer no absoluto é ser retro e preconceituoso (quem lê entenda). Sendo assim, assumir algum rótulo para si não é uma garantia que o sentido literal do rótulo usado será compreendido. Por exemplo, quando digo que sou evangélico, quase nunca sou visto como um subversivo do amor, um revolucionário desarmado lutando para intervir positivamente na história ao meu redor. Literalmente, evangélico é aquele que carrega os atributos do evangelho. Ora, que enorme elogio deveria ser reconhecido como evangélico! Porém, em tempos de Festival Promessas, Teologia Triunfalista, aberrações experimentalistas transvestidas de poder de Deus, o termo evangélico tornou-se pejorativo e ganhou outros significados no inconsciente coletivo popular.  Alguns deles são o de: Intolerante, homofóbico, irrelevante, egoísta, mau caráter, fanático religioso, entre tantos outros. É ou não é?

Quantas vezes você não se acanhou em dizer que era evangélico, não por vergonha do evangelho, mas com receio da leitura equivocada que fariam de você?

Infelizmente, devo admitir que a própria igreja, em muitos casos, foi a grande responsável por esses adjetivos pejorativos. Contudo, gostaria de trazer luz a uma verdade aos que não estão aprofundados no mundo teológico cristão. Uma verdade desconhecida por esses.

A Igreja (um grupo chamado para fora) que teve por fundador Jesus de Nazaré, foi criada com a proposta de subverter o status quo corrompido com o maior e melhor livro revolucionário da história - O Evangelho. Esse livro revoluciona o ser humano de dentro para fora trazendo respostas as inquietudes da alma.  E aprouve a Deus, confiar tão nobre tarefa a homens pecadores, causando certo “ciúme” até mesmo nos anjos, que adorariam exercer essa função revolucionária de evangelizar a Terra, como nos relata o apóstolo Pedro. 

Contudo, hoje, aquela que deveria ser a maior instituição revolucionária da história, causando uma intervenção direta na sociedade como um todo, com exemplos de retidão e amor ao próximo, transformou-se em empresa, em partido político corrupto egocêntrico, em prostíbulo do sagrado – A Igreja da Besta, como narra o livro de Apocalipse, sentada no trono presumindo-se Deus.  

Porém, como sempre foi na história, existem os remanescentes, aqueles que se mantiveram fiéis aos princípios da revolução do Amor proposta por Cristo. Esses guerrilheiros não levantam armas de fogo, sua força bélica é a paixão pela oração feita por Jesus naquela antiga montanha, na qual ele dizia: “Venha a nós o TEU REINO, seja feita a tua vontade assim na terra como nos céus”.

A munição desse exército marginal são as palavras do discurso mais subversivo de Jesus, aquele que quebrou e continua quebrando um velho paradigma:
“Ouvistes que foi dito: Amarás o teu próximo, e odiarás o teu inimigo.
Eu, porém, vos digo: Amai a vossos inimigos, bendizei os que vos maldizem, fazei bem aos que vos odeiam, e orai pelos que vos maltratam e vos perseguem; para que sejais filhos do vosso Pai que está nos céus;  Mateus 5:43-44

Hoje, tenho a impressão de existirem somente duas igrejas na terra. Aquela que se estabelece em todo lugar onde há o encontro desses remanescentes da revolução genuína do evangelho, aquela que subverte a miséria em esperança, aquela que subverte o ódio em amor, aquela que subverte o pecado em redenção, e a outra - aquela que arrasta multidões, que auto rotula-se igreja de Deus e que, por conta do seu marketing empresarial, usurpou o lugar no inconsciente coletivo da verdadeira igreja proposta por Cristo.

Creio que a nossa função, nosso chamado e maior desafio como remanescentes é, com todo o esforço nos enquadrar dentro de Mateus 5:43-44. Se assim não for, toda nossa boa obra, toda nossa denúncia e toda nossa apologética serão queimadas pelo fogo da transparência que sairá dos olhos Daquele que tudo vê desde sempre. Quando cada ser humano estiver diante do Reis dos reis, o olhar d’Ele penetrará as câmaras mais profundas das motivações humanas. Nesse dia, eu quero me prostrar em adoração e não em vergonha.

Por conta disso, pegando um gancho com o Ricardo Gondim, eu também me declaro rompido com o movimento evangélico. Rompo porque hoje esse nome e movimento não representam o verdadeiro Evangelho. Rompo sem medo, porque os valores são mais importantes do que um termo. Não me rotulo assim. Na verdade, rótulos não me cabem, minha liberdade conquistada na cruz através de Jesus me faz leve e livre demais para esse quintal.

Nem comuna, nem capitalista, nem plebeu e nem burguês. Nem calvinista, nem arminiano, nem reformado e nem pentecostal. Eu sou o quê o sou!

Mas se você ainda tiver essa grande necessidade de me enquadrar em um rótulo, pode me chamar de um pequeno discípulo de Cristo, apenas um rapaz latino americano subversivo do amor, ou simplesmente, um cristão protestante. Um protestante da paz, um militante contra a herança babilônica egoísta e hedonista que se rebela contra a implantação total do Reino de Deus na terra. Apenas um homem que acredita no poder do verdadeiro evangelho para transformar tudo em todos.

Soli Deo Gloria