SUBVERTA

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quarta-feira, 23 de maio de 2012

Façamos Obras Maiores Que as de Cristo



"E, quando aqueles homens chegaram junto dele, disseram: João o Batista enviou-nos a perguntar-te: És tu aquele que havia de vir, ou esperamos outro?
E, na mesma hora, curou muitos de enfermidades, e males, e espíritos maus, e deu vista a muitos cegos.
Respondendo, então, Jesus, disse-lhes: Ide, e anunciai a João o que tendes visto e ouvido: que os cegos vêem, os coxos andam, os leprosos são purificados, os surdos ouvem, os mortos ressuscitam e aos pobres anuncia-se o evangelho". Lucas 7:20-22

Por Marcello Vieira
O povo crerá por conta dos sinais (João 4.48). Quando se fala em sinais muitos pensam em cegos físicos sendo curados, paralíticos levantando - e andando, mortos ressuscitando. É verdade que esses sinais foram frequentes no ministério de Cristo e que ele nos deu poder para repeti-los através do Espírito Santo. Porém, os sinais não se limitam aos prodígios. Na verdade, encarando nosso contexto histórico e social, penso que as obras maiores que o Messias disse que faríamos estão além dessas maravilhas.

Em mundo com tanto caos, pobreza e injustiça, a igreja é desafiada a ter sua luz mais brilhante do que em qualquer outro momento da história. A igreja tem o desafio de salgar mais do que em qualquer outro tempo. Os moribundos estão por toda parte. Milhares de pessoas vitimizadas por um sistema corrupto não tem a oportunidade e nem os subsídios básicos para começarem a lutar com reais chances de vencer. As almas dos povos estão infectadas pela desesperança e pela humilhação social que lhe foram imputadas. Além do juízo vindouro, milhares de pessoas já padecem em um inferno social e psicológico. A alma do ser humano nunca foi tão maltratada - as doenças da psique crescem em grande escala. A corrupção e a afronta dos políticos elevam seus níveis de ousadia garantindo-se na impunidade da justiça e na letargia pacífica de um povo que não tem acesso a educação de qualidade. Um povo que é facilmente distraído com futebol e novela.

 E dentro desse contexto estamos nós, a igreja de Jesus Cristo, aqueles que foram chamados para fora para trazer boas notícias. Fomos plantados por Deus no olho do furacão, temos em nossas mãos o verdadeiro remédio para toda essa miséria humana, temos a oportunidade de realizar as obras maiores que Jesus nos habilitou para fazer.

Nossos sinais devem ir além de indivíduos, o evangelho é coletivo. Observe que diante do questionamento de João Batista a respeito de sua divindade, Cristo entra em atividade física e começa a transformar a vida de quem está ao redor. Somente depois ele responde: "Contai a João o quê tem visto e ouvido: que os cegos enxergam, os paralíticos andam, os leprosos são purificados, e os surdos ouvem; os mortos são ressuscitados e o evangelho é anunciado aos pobres". Ele nem precisa auto afirmar que era o Messias, apenas manda que se relate os fatos - porque contra fatos não há argumentos.

A igreja precisa realizar os sinais. Muito mais do que pregadores realizando prodígios (suspeitos) na televisão, precisamos interferir na realidade da nossa comunidade. Olhar para fora e subverter o caos. A corrupção assola nossa pátria, os heróis morreram de overdose e se sujaram no esgoto da corrupção. Cabe a nós gritar por justiça, cabe a nós estender as mãos, cabe a nós trazer a visão aos cegos na alma, cabe a nós trazer o movimento as pernas daqueles que foram aleijados pelas circunstâncias, cabe a nós abrir os ouvidos dos que não ouvem, mas não com nossos berros de moralismo, mas com atitudes corroboradoras do amor que anunciamos.

Menos marcha para Je$u$, mais Marcha pelo Caminho, pela Verdade e pela Vida! Mostremos os sinais! Façamos as obras maiores transformando a realidade ao nosso redor com o poder do Evangelho.

Deus nos ajude!


quarta-feira, 16 de maio de 2012

Escândalo ou Choque Cultural?


Por Marcello Vieira

O quê é escandalizar?

Sempre tentei compreender o dogma do escândalo. Desde que me aventurei a conviver entre os evangélicos, fui bombardeado com um novo idioma - um novo dialeto. Dentro desse universo passei a ouvir constantemente as expressões - escândalo e escandalizar. Os alertas eram muitos para não escandalizar ninguém, principalmente os irmãos. Em muitas situações, me parecia que o simples fato de desagradar alguém com algum comportamento seria um escândalo. Usando Lucas 17.1, me mostravam como Jesus reprovava os escândalos e como a pena é severa para esse delito – afogar-se no mar com uma pedra amarrada no pescoço!  Jesus é amor, mas às vezes ele é meio intolerante – pensava eu.

As afirmações e interpretações a respeito do escândalo são tantas que tenho a impressão que para muitas pessoas, essa palavra tem vários significados e pode até mesmo passar por uma metamorfose em certas circunstâncias. Dentro da nossa cultura ocidental, segundo o dicionário da língua portuguesa, escândalo é:

Coisa indecorosa, contrária aos bons costumes.
Estado de perplexa indignação suscitado por palavra ou ato reprovável: com grande escândalo do auditório.
Procedimento desabrido que causa vexame ou constrangimento; altercação, querela; algazarra, tumulto: dar escândalo em público.
 Dicionário Online de Português

Porém, sabemos que devemos ler as Escrituras Sagradas sob a luz da hermenêutica e da exegese.

Então, levando em consideração que Lucas foi escrito em grego e levando em consideração as circunstâncias em que Jesus pronunciou essas palavras, a interpretação contemporânea não traduz o significado de escândalo na pronuncia de Jesus. E se isso é verdade, todo o dogma criado em cima do conceito popular evangélico sobre escândalo está equivocado.
Partindo do significado original grego de que escândalo (skandalon) é um obstáculo, é de se pensar que o ato de escandalizar tem muito mais haver com um ensino do que com ato, comportamento ou cultura de alguém.

Ou seja, escândalo é uma coisa, chocar o seu preconceito é outra totalmente diferente. Pare de usar Jesus para corroborar o seu desejo por singularidade e sua incapacidade de viver em pluralidade.

Quando Jesus disse que os escândalos seriam inevitáveis e que coitados seriam aqueles por quais esses escândalos viessem, penso que ele estava se referindo muito mais a ensinos que obstruiriam as pessoas de chegarem até Deus do que de comportamentos. Principalmente quando vemos que antes dessa afirmativa, o Messias vinha fazendo uma dura crítica aos fariseus, que eram os mestres de ensino da época.

Lembro-me do bispo Walter Maclister falando sobre a banalização do sacramento. Acredito que essa banalização foi aplicada ao escândalo, o quê é de fato, extremamente nocivo às pessoas. Penso que isso seja fruto da arrogância das pessoas que sempre tentam usar a bíblia para corroborar seus achismos e ponto de vista.

Com isso, vemos as pessoas usando a expressão escandalizar para imputar sobre os outros suas normas de comportamento e gostos pessoais, tornando-se comum ouvir irmão exortando outro irmão sobre vestimentas, culturas, gostos musicais e hábitos culturais sob o juízo do escândalo.

Será que os jovens tatuados na igreja, de brinco e piercing são um obstáculo para que os anciãos alcancem a salvação?  

E os irmãos mais contextualizados culturalmente, também seriam um entrave para a salvação dos mais tradicionais? E vice versa?

É óbvio que não! O quê eles são, no máximo, é um choque cultural! Um abalo sísmico no preconceito e nas predefinições.

No Antigo Testamento, Deus sempre se referiu ao escândalo como um obstáculo para se chegar até a Ele. O próprio Cristo foi chamado de Rocha de escândalo, pois ele foi um obstáculo para a salvação dos judeus.

Paulo afirma: "Mas nós pregamos a Cristo crucificado, que é escândalo para os judeus, e loucura para os gregos". 1º Co 1.23

O próprio Jesus adjetivou Satanás como um escândalo, um obstáculo, quando usou a boca de Pedro para tentar impedi-lo na conclusão de sua obra.

“Ele, porém, voltando-se, disse a Pedro: Para trás de mim, Satanás, que me serves de escândalo; porque não compreendes as coisas que são de Deus, mas só as que são dos homens”.  Mateus 16:23

Existe muita gente sendo defraudada em sua liberdade em Cristo por conta de uma compreensão errada sobre que o quê é escandalizar alguém. É impossível agradar a todos. Chocar preconceitos não é escandalizar.

Viva sua liberdade em Cristo trazendo na sua mente a seguinte consideração quanto as suas atitudes e ensinos: "Será isso um obstáculo para a salvação de alguém ou apenas um tremor inevitável do convívio entre seres humanos diferentes e plurais"?

Pense melhor em continuar banalizando esse vocábulo que carrega em si uma grande responsabilidade. Penso ser essa a lente correta para ler-se escândalo nas Escrituras.

Deus abençoe!


segunda-feira, 14 de maio de 2012

Pobreza e (com) Paixão.


Se eu dou comida a um pobre, me chamam de
santo, mas se eu pergunto por que ele é pobre,
me chamam de comunista.” (Dom Hélder Câmara)
Por Nei Alberto Pires 
A defesa das causas dos pobres é uma tarefa muito árdua. Exige da gente mais do que compreensão, discursos e teorias, mas, sobretudo, compromisso e compaixão. Somos muito preconceituosos para com o sofrimento dos pobres.
Desconhecemos sua realidade e não nos dispusemos a mexer na raiz de nossos problemas: a nossa forma de organizar o mundo. Entre nós é muito forte a idéia de que pobres são coitados, por isto desprovidos de sorte e de bens. Se não lutam, são preguiçosos. Se lutam e exigem, tornam-se perigosos. Mesmo quando passam fome, a gente insiste em dizer que eles ainda são capazes de sonhar.
Só a lucidez da razão e a sensibilidade podem tratar bem das questões da existência e convivência humanas. Na visão ocidental, desenvolvemos a ilusão de que somente a razão nos dará respostas aos problemas humanos. Nem a razão ornamental (que serve de ornamento), nem a razão instrumental (ferramenta para transformar a realidade) são capazes de justificar o sofrimento e a realidade daqueles que excluímos socialmente (os pobres). Os pobres não são invenção, não são uma ideia. Os pobres são reais. Os pobres existem, e sofrem a violação de sua vida e dignidade.
Leonardo Boff, defensor incansável das causas dos pobres e oprimidos, afirma que são três as compreensões que se tem da pobreza. Uma primeira, clássica, é a ideia de que o pobre é aquele que não tem. A estratégia então é mobilizar quem tem para ajudar a quem não tem, através de ações assistencialistas, sem reconhecer a potencialidade dos mesmos. A segunda ideia, moderna, é aquela que descobre os potenciais do pobre e compreende que o Estado deve fazer investimentos para que ele seja profissionalizado e potencializado, com fins à inserção no mundo produtivo. Ambas as posições desconsideram, na visão de Boff, que a pobreza é resultado de mecanismos de exploração, que sempre geram enormes conflitos sociais. Boff acredita que é preciso reconhecer as potencialidades dos pobres não apenas para engrossarem a força de trabalho, mas principalmente para transformarem o sistema social. Os pobres, organizados e articulados com outros atores da sociedade, são capazes de construir uma democracia participativa, econômica e social. “Essa perspectiva não é nem assistencialista nem progressista. Ela é libertadora”,a firma Boff.
Só a compaixão reveste-se de libertação. Compaixão não é sofrer pelos outros, mas sofrer com eles. O sofrer com os outros permite à gente colocar-se em seu lugar. Enxergar a partir dos seus pontos de vista e de suas realidades. É também deixar-se transformar, permitindo que os nossos mais nobres sentimentos se traduzam em ações concretas a favor dos pobres, fracos e marginalizados.
Poucos vivem a compaixão. Muitos perderam a sensibilidade, o que os impossibilita de viver a caridade e o amor ao próximo. Outros preferem atribuir aos pobres a culpa por sua situação de miséria e vulnerabilidade. Outros discursam democracia, não perguntando se esta propicia as mesmas condições e oportunidades a todos, como ponto de partida. Põe que o ponto de chegada depende de cada um de nós. E muitos, em grande número, tratam como crime a atitude de quem luta por causas humanitárias, quando estas exigem uma mudança na estrutura e organização da sociedade.“As pessoas são pesadas demais para serem levadas nos ombros. Leve-as no coração”, disse Dom Hélder Câmara. Este é o sentido maior da compaixão para com os pobres: não os defendemos por serem bons ou anjos, mas porque são parte de uma sociedade desigual, que não sabe lidar com eles.
Nei Alberto Pies é professor e ativista em direitos humanos.