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terça-feira, 24 de maio de 2011

Batismo de Angústia


Por Marcello Comuna
Os amigos que tem acompanhado os meus textos sabem que eu sou insistente na tecla da auto avaliação. Persisto nisso porque tenho total convicção que essa é uma estratégia eficiente para confrontar nossas motivações e nos guardar de tropeços.

Esse ano lamentei profundamente a morte de David Wilkerson, um dos poucos grandes profetas pós modernos. As pregações dele marcaram profundamente minha mente e suas mensagens juntamente com as de Paul Washer, me estimulam a andar com o espelho bíblico diante de mim. Hoje pela manhã, no balançar do trem rumo ao trabalho, vim lembrando do batismo de angústia que Wilkerson dizia ser necessário passar para compreender, mesmo que num pequeno vislumbre, o tamanho da agonia que Deus sente pela humanidade corrompida.

Comecei a me avaliar. Comecei avaliar a coerência entre meus sentimentos, atitudes, motivações e meus textos. Às vezes eu quero escrever algo mais “up”, mas simplesmente não consigo! Sempre que estou concentrado em meus escritos, uma terrível necessidade de chamar a atenção para a terribilidade de nossa miséria humana me invade.  Hoje comecei a investigar os últimos anos da minha vida com Cristo, e mesmo tendo sofrido uma notória transformação de caráter, abandonando algumas práticas que me distanciava do Pai, percebi que apesar de estar antenado intelectualmente no fracasso da humanidade, estou apático sentimentalmente a todo caos ao meu redor. Percebi que eu nunca chorei ao ver uma criança dormindo na rua, nunca perdi o sono por lembrar que seres humanos como eu não tem onde dormir, nunca perdi a fome por lembrar que outras pessoas comem os restos de comidas nos lixões. Talvez essa indiferença seja fruto do meio, do pandemônio em que vivemos ou quem sabe, a nossa predisposição egoísta. De qualquer forma, há uma grande necessidade de um batismo de angústia divina sobre todo aquele que se auto proclama um cidadão do Reino de Deus.

Cristo desceu a terra e enfrentou o maior de todos os desafios por que não suportou olhar nossa jornada rumo ao inferno sem nenhuma esperança de salvação. Ele se importou de tal forma que rompeu os limites do imaginável e entrou no inimaginável. Nenhum ser humano em perfeito juízo seria capaz de inventar uma história como a do Messias.

E aqui estamos nós, declarando aos quatro ventos que somos pequenos cristos, mas caminhando sentimentalmente indiferente a toda miséria humana sobre a terra.

Wilkerson cita em sua pregação, o batismo de angústia dos grandes profetas da bíblia, que antes de assumirem seus ministérios, foram imersos em um mar de angústias ao ponto de chorarem, rasparem suas cabeças, cobrirem-se de pano de saco para evidenciar sua enorme angustia pelo povo que padecia. Nesse instante, veio a minha mente Jeremias, Isaias, Habacuque...

Habacuque gritou em desespero: “Até quando, Senhor, clamarei por socorro, sem que tu ouças? Até quando gritarei a ti: Violência!Sem que tragas salvação? Por que me fazes ver a injustiça, e contemplar a maldade? A destruição e a violência estão diante de mim; há luta e conflito por todo lado.” Habacuque 1 vs 2:3
Nós nos isolamos em nossas igrejas, sejam as grandes instituições ou pequenas células orgânicas, não interessa! Tenho andado enfadado de gente que só sabe criticar e destruir, sem construir nada, ou ao menos, chorar literalmente de angústia por toda essa vergonha evangélica que se espalha. Sua apologética é estrume se você anda como um cyborg diante da falência global. 
Ah, meu Deus! Como somos hipócritas! Como podemos falar de “A” e “B” nos justificando em nosso zelo com a genuinidade da letra, porém, caminharmos com um coração endurecido pela maldade que assola a terra. O maior zelo que podemos demonstrar para com as Escrituras é praticar o seu mandamento maior: O amor.
As notícias de atrocidades não nos impactam por mais de cinco minutos! Nem eu e nem você lembramos mais das crianças mortas naquela escola em Realengo! Nos tornamos insensíveis demais, frios demais, calculistas demais, demagogos demais. 
Há cinco anos eu luto para matar mais e mais o velho Marcello que há em mim e fortalecer o novo Marcello que nasceu em Cristo. Mas é tão difícil... É tão difícil chorar de verdade com os que choram. 
Minha conduta moral correta não me é mais suficiente. Eu preciso de mais, preciso desesperadamente sentir o amor que Deus sente pelos perdidos, pelo menos uma parte do amor que O fez subir naquela cruz por alguém que era tão sujo como eu.
Não me chame mais de homem de Deus só porque eu não prático os famosos pecados capitais ou escrevo alguma coisa relevante. Deus fala através das mulas. Não me meça por isso. 
Nem eu e nem você somos dignos de ser chamados de homem e mulher de Deus antes de passar pelo batismo de angústia que nossos irmãos profetas bíblicos passaram.
Entenda que toda obra feita para o Reino por pura consciência moral ou costumes não suportarão os olhos fumegantes do nosso General. Apenas as obras que brotam alicerçadas no amor resistirão ao fogo da prova Jeovática. E não há como sentir um amor divino pelo mundo sem antes sentir uma angústia por toda miséria física e espiritual a nossa volta.
Um batismo de angústia é o caminho mais curto para se tornar um cristão relevante. Se você tiver coragem, ore a Deus e peça-o! Deseje sofrer uma terrível inquietação por saber que existem milhares de lugares onde a bandeira do nosso Rei não é tremulada. É sobre essas dores que somos convidados a sermos participantes. Não se trata de espinhos e chicotadas, é muito mais profundo, é a angústia na alma que fez o Cristo suar gotas de sangue.
Eu já tomei minha decisão. Anseio por esse batismo, anseio deixar de ser um demagogo hipócrita galopando sobre belas pregações e belos textos.
Quero que meu espírito seja relevante no mundo espiritual para que minha carne também alcance essa estatura no mundo físico. 
Deus nos ajude e nos batize. Amém?

8 comentários:

  1. Marcello meu velho,
    muito grato por vir aqui e encontrar um texto tão autoanalítico!

    Muito bom perceber que essa constante luta por entender que uma metamorfose se faz necessária é na verdade, a atuação do espírito Santo, mostrando a você que tá na hora de mudar de 'pele', de sair do lugar onde os conflitos se travam (mente) e prosseguir para os passos que Ele (Espírito) quer que você trilhe!

    Só quem é condizido, ou pelo menos sensível ao Espírito, pode entender que os conceitos, os sentimentos, as idéias, precisam sair do papel (ou da mente, ou da web) e começar a rolar na prática...
    ou como parece ser no seu caso, sair do coração e rolar na vida!

    Muito bom cara, isso é conflitante, angustiante, mas é muito bom sinal!!

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  2. A-mén... O hífen é proposital porque esse pedido é atendido, por exemplo, quando recebemos uma má notícia. A conversão não é só um processo emocional, mas, é emocional também. E a diferença entre o sentimento do velho para o novo homem se dá através da dor. Não há outra maneira.

    Salomão já disse ser preferível estar num velório do que numa festa, pois, naquele vemos o que somos na essência. Portanto, antes de chorar com os que choram, faz-se necessário chorar sozinho e muito!

    Permaneçamos firmes!

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  3. Wendel,

    Seja bem vindo! Prazer grande ter você por aqui.

    Sinto que estou mergulhando nesse mar de agonia. Não consigo mais passar por um pedinte, um morador de rua sem me sentir mau, sem fazer uma oração em pensamento.

    Abraço fraterno.

    Dé,
    Compreendo o que dizes. Tenho testemunhado essa dor.

    Firmes!

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  4. Tremendo maninho!! adorei seu texto. É bem por aí mesmo, que bom que tens se sentido assim. Bj

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  5. Sou abençoada todas as vezes que leio seus textos! Palavra inteligente e inspiradas por Deus! Parabéns!!!

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  6. a única angústia que posso concordar em ter e que você cita no teu texto, é a angustia de eu muitas vezes também, ser insensível ao sofrimento do outro que está caindo ao meu lado.

    não tenho que "ser" nada para jeová e muito menos tenho medo do seu fogo de general de guerra. não tenho essa relação paranóica com deus. a minha moral é para mim e para a boa convivência com os outros, não para jeová. ele não quer saber de moral, assim creio.

    abraços

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  7. Edu,
    Também não tenho uma relação paranóica com Deus. Sei que pela Graça fui salvo e não por minhas obras ou atitude moral. Porém, penso que até o dia que Deus me levar, é meu dever buscar meu crescimento espiritual e aumentar minha sensibilidade com tudo ao meu redor.

    Abraços fraternos.

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  8. Marcelo,eu entendo sua preocupação.
    Podemos até nos referir especialmente a moradores de rua pois acabam causando espécie no meio de quem evangeliza.Já que estes não são bem tolerados no seio da congregação.
    Se tem um segmento de evangelistas que acham que os moradores de rua estão nesse abandono porque estão desviados,decaidos e assim sendo, nem os observa.Também tem outros que acham que eles devem ser evangelizados,considerados e muito amados.
    Eu,particularmente, tenho profunda convicção que Cristo deva ser oferecido a todos sem distinção e com liberalidade.Não são certamente as modalidades da vida impostas a nós que extinguem o direito a salvação de quem quer que seja.Direito esse alcançado na Cruz.
    Acho sinceramente que tantos direcionamentos opostos,tantas opiniões contrárias,mostram com clareza que muitos evangelistas e pregadores já se distanciaram do amor incomparável que emana da cruz.
    O que mais me chama a atenção nos moradores de rua é que eles estão a margem de muitos contextos sociais.E alguns desses vivem solitariamente excluídos de qualquer convívio.
    Isso é um indicador muito interessante para quem ganha almas.E a pergunta que não quer calar se instala:alguém já pregou para ele?Já que a fé vem pelo ouvir.
    O mundo é nosso campo missionário e todas as pessoas nossos alvos.E partindo desse pressuposto, por que alguns requisitos personalíssimos como a miséria material, seriam empecilio?De fato não são empecilio.
    Conclui-se então que o problema não está em quem vai ser evangelizado mas em quem evangeliza.
    A herança deve ser destribuida liberalmente ,caso contrário,o reino de Deus continua sofrendo violência.

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