Por Marcello Comuna
“E por isso também Jesus, para santificar o povo pelo seu próprio sangue, padeceu fora da porta.
Saiamos, pois, a ele fora do arraial, levando o seu vitupério.” Hb. 13:12-13
Esse texto é uma conclamação ao chamado de estabelecer sobre a terra o Reino de Deus. Um chamado para fazer avançar a grande comissão do nosso General.
Assim como Cristo padeceu fora das portas da cidade, é nosso dever padecer fora das portas da nossa instituição eclesiástica para com todo o esforço ser relevante nessa geração. Mesmo que se relacionar com a cultura ao nosso redor seja desconfortante, é nossa obrigação de fazê-lo. Servir ao chamado não é estar num parque de diversões!
Não me cabe julgar as coisas passadas na igreja, eu não estava lá, sou uma pequena ovelha caminhando apenas há cinco anos com o Bom Pastor.
Então eu vou me ater em falar do que observo nesses cincos anos.
Venho de um meio cultural. Envolvido com música, grupos de poesias, teatros e afins. Um grande choque na minha conversão foi aprender a lidar com a subcultura evangélica. Nunca compreendi bem essa separação entre mundo e igreja. Ao ler as Escrituras, as recomendações para não se associar com as “coisas” do mundo eram claras na minha mente. A instrução era para não agir promiscuamente como o mundo age, porém, parecia que a maioria das pessoas ao meu redor estavam satisfeitas com a interpretação de que os cristãos devam ficar isolados dentro de uma bolha eclesiástica, sob o pretexto de protegê-los das investidas de satanás através do mundo. Ora, está mais do que provado através dos fatos que essa estratégia não deixa ninguém mais santo ou temeroso ao Senhor, pelo contrário, cria um monte de monstrinhos exclusivistas e preconceituosos com todos que não façam parte do seu clubinho.
Não é a toa que a sociedade ainda enxerga o povo de Deus como seres alienados, e não é só por nossa convicção em assuntos polêmicos como sexo antes do casamento e aborto, mas por que o rebanho evangélico é mal informado, não se relaciona com a cultura ao seu redor.
C. S Lewis costumava dizer que um cristão deve andar com a Bíblia em uma mão e um jornal na outra. É obvio! Como ser relevante em nossa comunidade se não compreendemos o contexto cultural que estamos inseridos?
Na excelente e desafiadora obra Reformissão, Mark Driscoll sugere que a igreja hoje deva encarar o evangelismo local como obra missionária. Reformissão (reformar a missão) seria enviar missionários primeiramente em nossa cultura local. Aplicar ao nosso evangelismo o mesmo conceito que missionários aplicam em terras estrangeiras, se relacionando com a cultura, se tornando amigo das pessoas, criando um vinculo de amizade, e em um segundo momento apresentando a fé, mas acima de tudo, amando as pessoas independentes se aceitarão a Cristo, se mostrando relevante para aquela comunidade. Mas que fique claro que isso não significa abandonar as missões internacionais. Veja o que Driscoll descreve sobre o conceito de reformar a missão.
“A reformissão é um chamado radical para que os cristãos e as igrejas cristas retomem o compromisso de viver e comunicar o Evangelho, e para fazê-lo sem ceder às pressões para comprometer a verdade do Evangelho, ou sem segregar o seu poder à segurança do interior da igreja. O alvo da reformissão é liberar continuamente o Evangelho, para que este faça a sua obra de reforma das culturas dominantes e das subculturas das igrejas.”
Hoje o que acontece nas igrejas é que primeiro queremos enfiar Jesus goela abaixo nas pessoas, e só depois disso nos tornamos “amigos” delas. Até investimos um tempo, mas se elas forem resistentes ao evangelho, viramos as costas com nossa hipócrita consciência tranquila pensando que elas não eram predestinadas. Ora, não foi isso que Cristo nos ensinou!
Ele deu o exemplo, Ele se relacionava com os fariseus (religiosos ou crentes) e também com os loucos. Ele estava totalmente inserido na cultura local de sua cidade. E instruía os seus discípulos a se relacionar com a comunidade. Vêm e vê! Dizia o Mestre.
Eu observo o contexto de igreja na sociedade e choro amargamente por sua irrelevância, e digo sem medo de ser feliz que Cristo também chora como chorou por Jerusalém no passado!
A igreja precisa se relacionar com sua comunidade, precisa se tornar atraente com uma contextualização do Evangelho, porém, mantendo-se fiel as verdades das Escrituras. Precisamos estar comprometidos por completo no evangelismo relacional, tratando-o como uma verdadeira missão urbana.
Precisamos desmistificar toda essa questão entre materiais seculares e cristãos, isso é mais uma ferramenta para isolar o sal da comida. Os “santinhos” com as musiquinhas “santas” dos “santos mercados fonográficos gospels” de um lado, e os diabinhos sem Cristo com o rock n’ roll do outro. O crente, consciente e maduro, cheio do Espírito Santo, sabe discernir o santo do profano, tem maturidade como Daniel para conviver na Babilônia sem se contaminar e ainda testemunhar com atitudes o caráter de Deus.
Contudo, se relacionar com a cultura ao redor é perigoso. Há grandes riscos. Ouvi um chapa dizer que para conhecer um cristão basta jogá-lo no mundo. Talvez essa seja a desculpa de muitos líderes para manter sua igreja naquela rotina medíocre, mantendo-a como um clube social. É verdade que muitos ao se relacionarem com a cultura caem, se desviam. Porém, quem se desvia, na verdade, nunca esteve no Caminho. Pensava que estava, o convenceram que estava. Um falso evangelho ou um conjunto de regras morais dogmáticas costuma convencer que fariseus se tornaram cristãos genuínos.
Líderes! Instruam suas ovelhas a se lançarem sobre a Pedra Fundamental e eles serão despedaçados e libertos das mazelas ocultas que os fazem tropeçar quando se relacionam com a cultura. Deus preferiu nos confiar à missão de evangelizar a terra do que a anjos, e Ele sabia que havia riscos! Quando nos enclausuramos dentro de uma zona conforto institucional com medo do mundo estamos pecando contra Deus!
Concluo te convidando a sair da bolha! Te encorajo a olhar diferente para aqueles maconheiros, adúlteros, prostitutas, avarentos e toda raça de gente que não faça parte do seu clube social eclesiástico. Olhe para eles com a mesma misericórdia que Deus olhou para você.
Sejamos relevantes! Deus abençoe!
Querido Marcello.
ResponderExcluirA Igreja instituição "subverteu e engoliu" a Igreja Reino,pessoas.É comum ver irmãos servindo a denominação crendo firmemente que ao faze-lo estão servindo invariavelmente o Reino.Creio que isso explique pelo menos em parte a total falta de relevância de "nossa" no meio da comunidade em que estamos inseridos.Sem querer legislar em causa própria quero lembrar um dos princípios estabelecidos em nosso projeto aqui na cidade.Ele está implícito em um texto bíblico conhecido por todos os familiarizados com a bíblia, porém igualmente negligenciado por esta mesma maioria: “Vós sois o sal da terra; ora, se o sal vier a ser insípido, como lhe restaurar o sabor? Para nada mais presta senão para, lançado fora, ser pisado pelos homens. Vós sois a luz do mundo. Não se pode esconder a cidade edificada sobre um monte; nem se acende uma candeia para colocá-la debaixo do alqueire, mas no velador, e alumia a todos os que se encontram na casa. Assim brilhe também a vossa luz diante dos homens, para que vejam as vossas boas obras e glorifiquem a vosso Pai que está nos céus”. (Mateus 5:14,15,16)
A dissociação do texto com nossa prática cristã faz com que o mundo tenha realmente muita dificuldade em entender quem de fato somos,ou deveríamos ser.
Paz!
Olá grande Anselmo!
ResponderExcluirComo tá a luta? Fico feliz em saber de sua preocupação em transformar sua congregação relevante culturalmente.
Precisamos usar de todos os esforços como Paulo nos instruiu para ganhar alguns.
Paz!
Todos nós, acredito que sem exceção, começamos um processo que vem pelo ouvir.
ResponderExcluirE ouvindo a cerca de Deus, o mais profundo de cada um começa a ser transformado.
E chega o dia que tal qual Jó, podemos ver a Deus.
Jó 42-5 "Com o ouvir dos meus ouvidos ouvi,mas agora te vêem os meus olhos."
Quando nossos olhos vêem a Deus o nosso olhar para o outro muda.
O olhar se transforma verdadeiramente e o outro não é mais o que se apresenta.
Alto ou baixo,gordo ou magro, pobre ou rico,alguém que não é mais o que o meu olho vê.
Paulo fala em 2 Corintios 5-16, com toda propriedade, algo que cala fundo e passa a ser um divisor de águas.
Por isso, doravante a ninguém conhecemos segundo a carne.Também se conhecemos Cristo segundo a carne,agora já não o conhecemos assim.Se alguém está em Cristo é nova criatura.Passaram as coisas antigas;eis que se fez realidade nova.
Se nós somos nova criatura, discernimos o Cristo.E Deus estava em Cristo se reconciliando com o mundo e perdoando as faltas da humanidade.
Portanto, todas as almas que vão passando por nós e nós por elas são todos que na Cruz foram lavados pelo precioso sangue purificador.
São todos os que se transformaram em um e que visitados pela graça são a unidade.
Quão especias são esses,essas almas.
Precisamos tratar de todos com uma dedicação cuidadosa porque todos são propriedade do Deus redentor.
Estejam essas almas em qualquer lugar,nos castelos ou nas sargetas da vida,são todas iguais,idênticas.
Todas são a expressão mais absoluta do amor imensurável de Deus.
Essas almas somos todos nós.
Portanto, nós resta cumprir o grande mandamento "AMA A DEUS SOBRE TODAS AS COISAS,E AO TEU PRÓXIMO COMO A TI MESMO".
Marcelo,gostei muito!É a mais pura verdade.
Temos muito para amar dentro e fora da bolha.
O mundo nos aguarda,e o nosso redentor VIVE.
"Essas almas somos todos nós."
ResponderExcluirConcluiu muito bem Lígia.
Jah bless!
comuna,
ResponderExcluirapesar dos seus poucos 5 anos no meio evangélico, você expõe muito bem o tema "cristo e cultura"(aliás, título de um famoso livro do famoso teólogo niebuhr). veja o que ele escreve em uma parte do livro:
"a grande traição da igreja como instituição consiste em que, ao invés de constituir-se portadora e testemunha do evangelho, ela se apresenta como "defensora" do evangelho. isto na prática se refletiu num esforço de domesticar o evangelho, a serviço de determinada cultura e dos seus interesses arraigados. como resultado, ao invés de seguir o caminho da fé, a igreja se colocou na defesa dos privilégios que lhe garantiam a segurança, na santificação do status quo, e a religião resultante dessa traição tornou-se a principal sustentação da ideologia das classes dominantes, da luta pela santificação de objetos."(p17)
estou no meio evangélico há um pouco mais de tempo do que você. uns 30 anos...rsss e sempre houve uma dicotomia insana entre sagrado(as manifestações, a moral, a música sacra, etc cristãs) e o profano(o teatro, o cinema, a dança, a literalutra, etc "mundanos").
já fui um entusiasta de missões, de ganhar almas. mas como você bem disse, o que queremos é gente para nossa igreja, gente que se adeque ao nosso modo de ser, agir e pensar.
estou fora disso hoje. não acredito mais em converter alguém para o cristo/cristianismo seja algo imprescindível para a sua "salvação".
essa atitude é vista hoje como heresia, e por isso já me disseram que eu não posso ser cristão pensando assim.
no meu entender, esses continuam vivendo a dicotomia: a dos salvos que estão "aqui" e os perdidos que estão "lá".
confere lá no meu blog um texto sobre o "jesus in rio", um festival evangélico que quis contrapor ao primeiro rock in rio em 1985.
abraços.
ps. eu escrevo tudo com minúsculas, ok, inclusive deus. é que outros irmãos dizem que eu sou tão herege que nem mesmo tenho o trabalho de escrever Deus...rsss mas é para ganhar tempo mesmo.
Vou procurar esse livro cara! Amei o texto!
ResponderExcluirE a gente toma é paulada por esse entendimento...rsrsrs. Ontem fui crucificado por um legalista neopenteca por falar que estava ansioso para o show do Redo Hot Chili Pepperes no Rock in Rio.
Desconstruir essa satanização da cultura por parte da igreja é um árduo trabalho.
Li o seu texto ontem, mano! Interessante!! Num guento essas versões gospels para as coisas seculares. Jesus in Rio...
Abraços.