Por Daniel Lago
Nunca se falou tanto sobre vitória. Neste artigo, analisaremos as Escrituras com o fim de descobrir se o conceito bíblico de vitória é o mesmo que tem sido divulgado.
Nosso versículo de referência é 1 Crônicas 29.11:
“Teu, SENHOR, é o poder, a grandeza, a honra, a vitória e a majestade; porque teu é tudo quanto há nos céus e na terra; teu, SENHOR, é o reino, e tu te exaltaste por chefe sobre todos.” (Revista e Atualizada).
Em hebraico, a palavra “vitória” é “netsach”, que pode significar “objetivo” ou “esplendor”. A princípio, não vemos nenhuma relação entre um objetivo e algo que brilha. Todavia, a palavra “alvo” possui ambas as ideias, pois vem do latim “album”, que significa “clareza”, “brancura”. Todo alvo, para ser atingido, deve ser claro e aparente. É muito difícil acertar um alvo no escuro. Todavia, em um local iluminado, o alvo é facilmente atingido. Temos, aqui, uma primeira reflexão: Se a vitória é o objetivo do cristão, é preciso ter, de forma clara, qual é o alvo. Para isso, precisa-se da luz para revelar onde está o alvo.
Para alcançar a vitória, portanto, é necessário descobrir onde está o alvo, através da luz que o ilumina. A luz é a Palavra de Deus, como está escrito: “Lâmpada para os meus pés é a tua palavra, e luz para os meus caminhos.” (Salmo 119.105). Qualquer promessa de vitória que não está calcada na Palavra de Deus trará uma falsa vitória.
Não é possível encontrar o verdadeiro alvo e a verdadeira vitória sem a orientação da Palavra de Deus. Paulo nos ensinou sobre o alvo do cristão: “Prossigo para o alvo, para o prêmio da soberana vocação de Deus em Cristo Jesus.” (Filipenses 3.14.) O termo grego para vocação é “klesis”, que significa “chamado”. Nosso chamado, que é o nosso alvo e a nossa vitória, é o seguinte: “Ide por todo o mundo e pregai o evangelho a toda criatura. Quem crer e for batizado será salvo; quem, porém, não crer será condenado.” (Marcos 16.15). Somente quem prega o verdadeiro evangelho terá a verdadeira vitória.
Hoje em dia, porém, tem sido pregado um evangelho muito diferente daquele que Jesus pregava. O evangelho é a mensagem da salvação, como está escrito: “Pois não me envergonho do evangelho, porque é o poder de Deus para a salvação de todo aquele que crê.” (Romanos 1.16). Ou seja, nossa vitória é a salvação de nossa alma, é a vida eterna. E aquele que é salvo de verdade, trabalha para a salvação dos outros. Este obterá a verdadeira vitória.
Cristo disse o seguinte sobre a vida eterna: “a vontade de meu Pai é que todo homem que vir o Filho e nele crer tenha a vida eterna; e eu o ressuscitarei no último dia” (João 6.40). Quem vê o filho, descobre que ele é o alvo e crê nele, e vai em direção a ele, se lança sobre ele, como está escrito: “Todo o que cair sobre esta pedra ficará em pedaços; e aquele sobre quem ela cair ficará reduzido a pó.” (Mateus 21.44.) O néscio recusa a Cristo, e no final dos tempos Jesus cairá sobre ele como uma rocha e o esmagará. O homem prudente, porém, ao ver o alvo, que é Cristo, se lança sobre ele e é quebrado em pedaços, quebrantado, como o vaso na casa do oleiro (Jeremias 18.2), para ser feito novamente. Este é o novo nascimento, que embora doloroso, é fundamental para que alguém alcance a verdadeira vitória, que é a vida eterna.
Na verdade, quando o texto fala que o homem que cair sobre a pedra, que é Jesus, ficará “em pedaços”, a expressão grega é “sunthlasthêsetai”, cujo equivalente hebraico é “shabar”, que pode significar também “nascer”. Ou seja, quem cair sobre Jesus e for quebrado passará pelo novo nascimento, condição fundamental para alcançar a vitória, isto é, entrar no Reino de Deus, como Jesus disse a Nicodemos: “Quem não nascer da água e do Espírito não pode entrar no reino de Deus.” (João 3.5.)
Hoje, buscam-se vitórias em conquistas materiais e em prestígio social. Cristo, porém, nos ensinou: “Não obstante, alegrai-vos, não porque os espíritos se vos submetem, e sim porque o vosso nome está arrolado nos céus.” (Lucas 10.20.)
Em hebraico, portanto, a vitória está ligada a manter-se no objetivo, seguindo o alvo. A palavra grega para alvo é “skopos”, que assim como o equivalente hebraico “mattarah”, pode significar “prisão” ou “olhar”, porque tanto o alvo como a prisão devem ser vigiados de modo constante e cuidadoso. Quem não vigia, perde o alvo, perde a vitória, e o inimigo que estava preso foge e inicia uma revolta. Assim aconteceu com Acabe, que deixou seu prisioneiro fugir e perdeu a vitória que poderia ter alcançado (1 Reis 20.42). Muitos cristãos, infelizmente, estão se enganando, crendo que a vitória guardada para eles reside em benefícios materiais, riqueza e poder. Peço a Deus, em Nome de Jesus, que eles possam escutar o verdadeiro evangelho a tempo, o Evangelho do Reino, e não da prosperidade.
O curioso é que a palavra hebraica para vitória, “natsach”, também pode significar “mestre do canto” (Habacuque 3.19), pois “netsach” significa “eminente” ou “aquele que brilha”. O mestre de canto era uma pessoa eminente na sociedade, e sua função era trazer a eternidade para a vida dos homens, pois, em hebraico, “natsach” também pode significar “aquele que torna as coisas permanentes”. Ou seja, a função do mestre de canto é exaltar a Palavra de Deus, abrindo, assim, um caminho para a eternidade.
A palavra “natsach” é formada por uma raiz de três letras: nun, tsadi e chet. No alfabeto proto-semítico (que originou o alfabeto hebraico), a letra nun tem o desenho de uma semente, e significa “frutificação”. A letra tsadi tem o desenho de um homem deitado de lado, e significa “lateral”, “espreita”. A letra chet tem o desenho de um muro, e representa “o lado de fora”. A união das três letras tem o significado de “aquilo que brota para fora”, ou “aquilo que se expande para fora e continua”. Esta é a característica do mestre de canto, e de todo cristão vitorioso: dele sai uma fonte de água que jorra para vida eterna (João 4.14), pois dele brota a Palavra de Deus para a salvação de muitos. Isso fará com que ele permaneça para sempre.
Somente o cristão que prega o verdadeiro Evangelho, aquele mesmo que Jesus pregava, conhecerá a verdadeira vitória, que é o alvo da soberana vocação que há em Cristo Jesus!
Daniel Lago é jornalista formado pela UFRJ, doutor em Linguística pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) e professor de Filosofia da Educação da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), tendo estudado hebraico na Sinagoga ARI, em Botafogo – RJ, além de lecionar na Faculdade de Teologia Wittenberg.
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